Os
Resultados Práticos que Fluem de Andar no Espírito
Cap. 8:12-17 – Tendo apresentado a
posição e condição dos crentes no Cristianismo normal, Paulo continua falando
do lado prático dessas coisas, nos trazendo à responsabilidade.
Cap. 8:12 – Ele nos diz que, em vista do
que Deus fez por nós por meio da morte e ressurreição de Cristo, o crente não
tem obrigação alguma para com a carne para viver segundo a carne. Ele diz: “De maneira que, irmãos, somos devedores,
não à carne para viver segundo [conforme] a carne”.
Isso, como Paulo já explicou, é porque Cristo, nossa Cabeça federal, agiu por
nós ao separar-Se Ele mesmo de todo o sistema do pecado por meio da morte,
e nós (sendo parte de Sua nova raça de criação) temos o direito de nos
considerarmos mortos com Ele (cap. 6:10). Mas, mais do que isso, não temos
obrigação de viver segundo a carne porque nos foi dada “a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus”, que se sobrepõe às
más inclinações da carne (cap. 8:2). Portanto, não podemos justamente dizer que
não conseguimos deixar de viver segundo as concupiscências da carne, porque
toda provisão foi feita para que vivêssemos livres dela.
Cap. 8:13 – Paulo então nos adverte do
desastre que resultará em nossas vidas se escolhermos viver na esfera da carne.
Ele diz: “Porque, se viverdes
segundo [conforme] a carne, morrereis”. O aspecto da
morte aqui é uma separação moral e espiritual de uma vida de comunhão com Deus
(1 Tm 5:6). (Não poderia significar que o crente perde sua salvação, porque
isso é uma impossibilidade – Jo 10:28-29, etc.). Assim, Paulo está dizendo que
haverá um fracasso total em nossas vidas Cristãs. O crente que escolhe viver “segundo a carne” não somente terá seu “cordão umbilical” ou “linha de suprimento de vida”
de comunhão com Deus rompido, mas também incorrerá em juízos disciplinares
(governamentais) de Deus, o Pai (1 Pd 1:16-17, 3:10-12, 4:17-18). Estes são
enviados para corrigir a atitude errada do crente para com o pecado (Hb
12:5-11).
Paulo então diz: “mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis” – (ATB). Isso mostra que o poder de
restringir a carne vem do Espírito Santo, e que esse poder só estará ativo em
nossas vidas, se vivemos na esfera certa de vida. Portanto, para vivermos
vitoriosamente sobre a carne, devemos viver (não visitar ocasionalmente) na
nova esfera de vida onde Cristo vive para Deus e estar ocupado com “as coisas do Espírito” que ali estão.
Quando vivemos nesta esfera, o Espírito Santo está livre para tomar as coisas
de Cristo e mostrá-las para nós (Jo 16:13-15), e Ele também trabalhará para
manter a carne controlada, como mencionado no versículo 2. Só então poderemos “mortificar as obras do corpo” pelo Seu
poder. Este é o princípio da substituição que Paulo mencionou no capítulo 6. É
essencialmente a mesma coisa que ele disse aos gálatas: “Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gl
5:16). Isso é Cristianismo normal.
No versículo 2, Paulo falou da
libertação do pecado como resultado da presença e obra do Espírito Santo no
crente, e que isso é uma experiência Cristã normal. Mas, olhando para nossas
vidas, podemos dizer: “Não é exatamente assim comigo. Não posso dizer que tenho
conhecido a vitória sobre a carne na proporção em que Paulo descreve”. Podemos
nos perguntar por que isso acontece, já que sabemos que somos salvos e,
portanto, temos o Espírito habitando em nós. No entanto, uma coisa é ter o
Espírito de Deus presente em nós como
o poder para a libertação, e outra coisa é tê-Lo ali realmente trabalhando por nós em uma libertação diária
contínua. Isso mostra que, para que o Cristão tenha o poder do Espírito em sua
vida, o Espírito não deve apenas ser residente,
mas também deve ser presidente. Isso
equivale ao que a Bíblia se refere quando diz que devemos nos “encher do Espírito” (Ef 5:18).
O caso com muitos de nós é que o poder
do Espírito é extinto porque não estamos ocupados com “as coisas do Espírito” (os interesses de Cristo). O Espírito de
Deus deseja trabalhar por meio de nós, mas muitas vezes Ele é impedido em
vários níveis, dependendo de um Cristão para outro. Isso nos lembra do que o
servo de Abraão (que é um tipo do Espírito Santo) disse à mãe e ao irmão de
Rebeca – “não me detenhais” (Gn
24:56). É triste dizer que muitas vezes impedimos a obra do Espírito
“extinguindo” e “entristecendo” Ele. Simplificando: extinguir o Espírito é não fazer algo que o Espírito está nos
conduzindo a fazer (1 Ts 5:19), e entristecer o Espírito é fazer algo que Ele não nos levou a fazer (Ef 4:30).
Nosso problema é que queremos nos cercar
das coisas terrenas, naturais e mundanas, e segui-las, e esperar ter o
benefício da libertação prática, do poder do pecado, que o Espírito dá. Mas não
podemos viver na sombra e aproveitar o Sol ao mesmo tempo. Se mimarmos a carne, vamos obstruir o Espírito! Alguém pode ler
isso e dizer: “Ah, agora entendo; o que eu preciso é mais do Espírito em minha
vida!” Mas isso não é o que Paulo
está ensinando aqui. Nós não precisamos de mais do Espírito, porque Deus não dá
o Espírito em medidas (Jo 3:34). Na verdade, é o contrário – o Espírito precisa
ter mais de nós! Mas se tivermos nossas vidas cheias dessas outras coisas, há
pouco espaço na prática para o Espírito trabalhar. Isso nos lembra novamente do
servo de Abraão. Ele disse a Rebeca: “há
também em casa de teu pai lugar para nós pousarmos?” (Gn 24:23) Podemos ver
a partir disso que a vida Cristã prática realmente só é efetiva quando vivemos
vidas consagradas. Consagração significa “encher as mãos” ou “ambas as mãos
cheias” (Êx 29:22-24). Em nosso caso, é ter nossas vidas cheias de Cristo e dos
Seus interesses (cap. 12:6-8). Se fizermos isso, não nos faltará o poder do
Espírito.
Assim, dizendo “se” neste versículo (13), Paulo mostra que o encargo está agora com
o crente. Deus quer que sejamos responsavelmente exercitados quanto a termos
uma vitória prática sobre a carne. Temos que fazer uma escolha consciente para
viver na esfera certa de vida. Isso realmente se resume a uma questão de nossas
vontades – em que esfera eu quero viver e com o que eu quero estar ocupado? F.
B. Hole disse: “É possível nos desviarmos de considerar as coisas do Espírito,
para nos importarmos com as coisas da carne. E, na medida em que o fazemos,
entramos em contato com a morte ao invés de com a vida e a paz. Mas não nos
enganemos sobre isso; se formos para as coisas da carne, não estamos buscando
coisas que são propriamente características do Cristão, mas sim o que é
totalmente anormal e impróprio”.
Notemos também que Paulo não diz: “Mortificar o corpo”. Isso
seria ascetismo. Foi o que os monges fizeram ao se flagelarem, dormindo em
camas de pregos, etc., em sua tentativa de conter e controlar a carne – mas não
funcionou. Toda essa atividade não é o caminho de Deus para a santificação prática.
Paulo diz: “mortificardes as obras
do corpo”. São as “obras” – as
coisas pecaminosas que podemos estar inclinados a fazer – que devem ser
mortificadas, não nossos corpos.
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