2) A
PESSOA DESCOBRE QUE NÃO TEM PODER EM SI MESMA PARA CONTROLAR A SUA NATUREZA
PECAMINOSA (cap. 7:14-19)
Tendo
descoberto a presença e atividade da natureza pecaminosa em nossas almas,
muitas vezes somos lentos em aceitar o verdadeiro caráter da carne – que é
incorrigivelmente mau. Assim, temos de aprender esse triste fato pela
experiência – e isso pode ser amargo e terrivelmente humilhante.
Sendo
uma alma vivificada, a pessoa que busca a libertação terá um desejo genuíno de
agradar a Deus, e responderá com um esforço honesto tentando controlar a
atividade de sua natureza pecaminosa. Tendo neste estágio de sua experiência
uma luz limitada quanto aos princípios envolvidos no caminho de Deus para
libertação, ela pensará que é seu dever lutar contra a carne para mantê-la
dominada. Assim, a luta começa em sinceridade. Mas invariavelmente, ao
combatê-la, ela descobre – como Philip Melancthon (amigo mais próximo de
Martinho Lutero) – descobriu e disse, “O velho Adão é forte demais para o jovem
Filipe!” Enquanto Melancthon usa “Adão”
– substituindo-o pela carne – o que não está doutrinariamente correto, nós
entendemos bem o que ele quis dizer.
A
imagem real retratada nestes versículos é a de uma pessoa (quanto à sua
consciência) estando sob a lei, e lutando na carne para guardar as exigências
da lei – mas continuamente fracassando. Em vez de encontrar libertação por
combater a carne, quanto mais luta, mais ela o leva ao cativeiro. A pessoa não
encontra nenhuma libertação nessa linha. Em seu fracasso em atender as
exigências da lei, ela corretamente justifica a lei, afirmando que é ela “espiritual” (v. 14); o problema,
conclui corretamente a pessoa, é consigo mesma – porque ela é “carnal” e “vendido (como escravo) sob
o pecado (seu mestre)”.
Vs.
15-18 – Paulo descreve a luta: “Porque o
que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso
faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Porque eu sei que em mim, isto
é, na minha carne, não habita bem algum: e com efeito o querer está em mim, mas
não consigo realizar o bem”. (Antes de prosseguir, tenhamos em mente que
esta não é uma luta para ser
perdoado, justificado ou salvo do pena de nossos pecados. Pelo contrário, é uma
luta para libertação da atividade interior da natureza pecaminosa. Portanto,
ele não está buscando libertação do pena
eterna do pecado, mas do poder
presente do pecado.) Há coisas boas que ele quer fazer, mas acaba não as
fazendo. E há coisas más que não quer fazer; essas ele acaba fazendo! Por
repetidos fracassos, ele se torna frustrado e extremamente infeliz consigo
mesmo porque continua fazendo as coisas que odeia e não consegue encontrar o
poder para parar!
F.
B. Hole disse: “Vamos lembrar o que aprendemos no capítulo 6, pois aí nos foi
mostrado o caminho. Percebendo pela fé que somos identificados com Cristo em
Sua morte, entendemos que devemos nos considerar mortos para o pecado e vivos
para Deus, e consequentemente, devemos apresentar a nós mesmos e nossos membros
a Deus para Sua vontade e prazer. Nossas almas concordam plenamente com isso
como correto e adequado, e dizemos a nós mesmos, talvez com considerável
entusiasmo: ‘Exatamente! Isso é o que vou fazer’. Nós tentamos fazer isso, e
eis! nós recebemos um choque muito desagradável. Nossas intenções são as
melhores, mas de alguma forma estamos sem poder para colocar essas coisas em
prática. Nós vemos o bem e o aprovamos em nossas mentes, mas falhamos em
fazê-lo. Nós reconhecemos o mal o qual desaprovamos, e ainda assim somos
enganados por ele. É um estado de coisas muito angustiante e humilhante” (Paul’s Epistles, vol. 1, pág. 28).
Vemos
disso que desejar fazer as coisas
boas ordenadas na lei não é suficiente para dar poder à pessoa para fazê-las.
Seu desejo está correto, mas ela não tem poder. Seu problema é que está
tentando com sua própria força guardar a lei e fazer o que é correto e bom.
Isso é visto pelo uso repetido dos pronomes na primeira pessoa – eu, mim, meu,
eu mesmo – que ocorrem mais de 40 vezes nesse parêntese! Alguém disse: “Ele
teve uma overdose de vitamina Eu”.
Seu erro é que está esperando algo de si mesmo para efetuar essa libertação –
ou pelo menos ajudá-lo nisso. Essencialmente, ele está tentando fazer isso na
sua carne natural, mas não percebe que a carne bem intencionada ainda é a
carne. Ele está tentando realizar algo que Deus declarou ser uma
impossibilidade absoluta – a saber, tornar a carne “sujeita à lei de Deus” (cap. 8:7). Isso nos mostra que uma pessoa
pode ter bastante clareza em seu entendimento de que a libertação do pena de
nossos pecados não pode ser assegurada por seus próprios esforços, mas de
alguma forma pensa que a libertação do poder do pecado interior é algo que pode
efetuar por meio de seu próprio esforço. A verdade é que todos os aspectos da salvação de Deus – passado, presente e futuro
– são por Sua graça e somente por isso.
Como
mencionado, o problema é que a pessoa retratada aqui está procurando no lugar
errado pelo poder de libertação. Ela precisa aprender que o remédio não está em
si mesmo, mas em outro. É triste dizer que esse erro está no fundo de grande
parte da psicologia e aconselhamento Cristãos de hoje. Concentra-se na pessoa e em seu problema, o
que não resolve a questão e, em alguns casos a intensifica. Não haverá vitória
por meio de introspecção. O que a pessoa precisa é tirar os olhos de si mesma.
No entanto, ela não desistirá de si mesma nem deixará de procurar a solução até compreender sua verdadeira maldade.
Ela precisa entender que não só fez coisas más (pecados), mas que ele mesmo
(pecado) é completamente mau. Esta é uma lição importante para se aprender e
muitas vezes dolorosa. J. N. Darby disse: “Esta lição de falta de força é muito
mais humilhante de se aprender do que admitir o fato de que certos pecados
foram cometidos em algum momento passado da minha vida”. H. Smith disse: “O
fato de não termos força é, talvez, a
verdade mais difícil e mais humilhante de se aprender”. Mas devemos aprendê-lo.
Podemos
perguntar: “Como uma pessoa conhece
completamente sua maldade?” A resposta é: “Tentando viver uma vida boa e
santa”. Essa é na verdade a razão por que Deus permite que a pessoa em busca de
libertação passe por essa luta. No processo, a pessoa é permitida tentar tudo o
que for humanamente possível (em sua própria força) para obter a vitória sobre
a carne. Ao fazê-lo, descobrirá que não há nada lá que possa fazer isso e só
então começará a buscar ajuda em outro lugar. Quanto mais diligentemente ela em
sua carne natural fazer o que é certo e bom, melhor será a lição aprendida –
pois, mais cedo descobrirá a verdade sobre si mesma e desistirá de olhar para
dentro. Em conexão com isto, J. N. Darby disse: “Estude bem estas palavras: ‘a carne para nada aproveita’” (Jo
6:63). Quando tivermos aprendido isso em certo nível, diremos com convicção: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita bem algum” e deixaremos de olhar internamente para a
solução. Note que ele não diz: “Eu não faço
nada de bom”, mas “em mim... não
habita bem algum”. Isso, mais uma vez, mostra que não é uma questão do que fizemos (pecados), mas do que nós somos (pecado). Conhecer este grande
fato sobre nós mesmos é um lugar importante para se chegar em nossas almas,
porque não pode haver progresso real na santidade até que tenhamos aprendido
isso. No entanto, esse conhecimento em si não é o que traz a libertação, mas é
necessário no processo.
Essa
verdade – de que não há bem no homem na carne – é algo que diferencia o
Cristianismo de todas as outras religiões do mundo. As religiões do mundo
ensinam que há algo de bom em todos os homens. Elas acham que, embora o homem
faça coisas más, ele é inerentemente bom. “O
evangelho de Deus” (cap. 1:1), por outro lado, anuncia que o homem na carne
é tão incuravelmente mau que Deus não tenta consertar ou reabilitar a natureza
caída do homem. Em vez disso, Ele começa de novo, comunicando uma nova vida e
natureza por meio de um novo nascimento, e depois trabalha isso (nos crentes)
para trazer-lhes bênção. De fato, ambas as naturezas (a velha e a nova) não
podem ser melhoradas! A velha natureza é tão má que não pode ser melhorada
(Deus a condenou – cap. 8:3), e a nova natureza (que é a própria vida de
Cristo) é tão boa e perfeita que também não pode ser melhorada! As falsas
religiões do mundo, na premissa errada de que o homem é inerentemente bom,
ensinam que a religião e a prática religiosa são o que o homem na carne precisa
– e isso (eles pensam) evidenciará o bem no homem, e como resultado, o mundo
será um lugar melhor. No entanto, a Bíblia ensina que não é religião que o
homem precisa; é uma nova vida com uma nova natureza!
Em
resumo, o homem retratado aqui aprende duas coisas relacionadas a essa segunda
descoberta:
- Que não há nada de bom nele – assim ele é completamente pecador.
- Que ele não tem força para controlar a carne – assim ele é completamente desamparado.
Todo
o problema com o homem descrito neste parêntese é que ele está procurando por
algo bom naquilo que Deus condenou como não sendo bom (cap. 8:3). Embora ele
tenha mentalmente concordado com a verdade de que “não há homem
justo sobre a Terra, que faça bem, e nunca peque” (cap. 3:12; Ec
7:20), ele evidentemente não aprendeu que “em
mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (v. 18). Isso
mostra que reconhecer certas verdades
(e até mesmo expressá-las claramente) não é necessariamente o mesmo que conhecê-las. A palavra “sei” nesse versículo é “oida” no grego, que denota um
conhecimento consciente interno, em vez de um mero conhecimento superficial.
Por isso, há uma diferença entre entender intelectualmente esta verdade sobre
nós mesmos e saber esta verdade por ter dela uma percepção prática. Um caso em
questão é ilustrado em um grupo de estudantes de uma escola bíblica que estava
estudando a queda do homem. Quando o professor chegou, disseram-lhe:
“Encontramos o pecado original na Bíblia!” Ele respondeu: “Mas vocês o
encontraram em seus corações?” Esta é a lição que está sendo aprendida pelo
homem neste capítulo.
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