terça-feira, 9 de outubro de 2018

Os Dois Maridos


Os Dois Maridos

Nesta passagem, Paulo explica porque a lei não tem conexão com os Cristãos – sejam eles Cristãos judeus ou Cristãos gentios. No capítulo 7:1-3, ele estabelece o princípio, dando uma ilustração hipotética da improbabilidade de uma mulher ser casada com dois maridos ao mesmo tempo. Então, no capítulo 7:4-6, faz uma aplicação desse princípio, mostrando que, como os Cristãos estão mortos com Cristo, o vínculo que uma vez os reteve (crentes judeus) às obrigações da lei foi quebrado.
Cap. 7:1-3 – Paulo vê a lei como estando na posição de um marido e os judeus (antes de serem salvos) na posição de uma esposa. A mulher nessa situação estaria sujeita a certas obrigações para com o marido. Paulo declara: “Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver”. F. B. Hole disse: “Todo judeu considerava o velho marido – a lei – muito severo e inflexível, e que de fato a espancava, embora tivessem de admitir que merecessem tudo o que lhes sobrevinha”. Sob a lei, eles estavam cansados e “sobrecarregados” (ARA) em seus esforços para fazer tudo o que ela ordenava, e também em cumprir coisas acessórias que os rabinos lhes acrescentavam. (Mt 11:28, 23:2-4).
Então, Paulo diz: “Mas, morto o marido, livre está da lei do marido”. Nesta declaração, Paulo não está ensinando que a lei morreu – mesmo que ele se refira à morte do marido. O grande ponto que está estabelecendo aqui é que a morte encerra a vigência da lei; o vínculo envolvido nesse relacionamento legal é quebrado com a chegada da morte.
Cap. 7:4 – o Sr. H. Smith aponta que na ilustração o marido morre, mas na aplicação do princípio, é a esposa que morre. Paulo deixou claro no versículo 1 que aqueles nessa relação legal, que estão agora identificados com Cristo, chegaram ao fim pela morte. Ele disse: “a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que ele vive” (AIBB). Paulo não disse que a lei tem domínio sobre um homem por todo o tempo que ela (a lei) vive, mas “por todo o tempo que ele [o homem sob ela] vive”.
Aplicando o princípio da Cabeça federal de Cristo aos crentes judeus em seu relacionamento legal com Deus, Paulo mostra que, uma vez que Cristo morreu, eles têm o direito de também se considerarem mortos. Ele diz: “Assim, meus irmãos [judeus], também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo”. Assim, os crentes no Senhor Jesus Cristo não apenas estão mortos para o pecado (cap. 6); eles também estão mortos para a lei (cap. 7). A lei não tem mais domínio sobre aqueles que estavam nessa relação e que creem, porque são vistos como mortos e enterrados – e a lei não tem domínio sobre um homem morto. J. N. Darby disse: “Ele morre para aquilo no qual estava retido. A lei só poderia impor sua reivindicação sobre o homem como um filho vivo de Adão. A ‘lei tem poder sobre o homem enquanto ele viver’; mas eu estou morto para a lei pelo corpo de Cristo; o vínculo com a lei cessou de forma absoluta, total e está necessariamente cessado, pois a pessoa está morta; e a lei tem poder sobre ela somente enquanto viver” (Collected Writings, vol. 10, pág. 10).
“O corpo de Cristo”, do qual Paulo fala aqui, não é o corpo místico de Cristo do qual somos membros (1 Co 12:12-13), mas o corpo pessoal (físico) de Cristo que Ele tinha ao Se tornar um Homem (Hb 10:5; Cl 1:22). Foi por meio desse corpo no qual morreu que Cristo levou os crentes à morte por sua identificação com Ele.
A KJV diz: “Casado com outro...”. Isso é mencionado três vezes nesta passagem, mas a palavra “casado” não está realmente no texto grego. Deveria dizer: “Pertencer a outro” (Tradução W. Kelly). Isso ocorre porque nosso relacionamento com Cristo atualmente é o de alguém comprometida a um marido; estamos aguardando o casamento que acontecerá no futuro (Ap 19:7-10). (É verdade que, em Efésios 5, a Igreja já é vista em união com Cristo, mas aquela epístola apresenta a verdade a partir da perspectiva do propósito eterno de Deus – como algo completo e totalmente fora do tempo.)
Paulo conclui seu pensamento dizendo: “A fim de que demos fruto para Deus” (v. 4). O “fruto” a que se refere aqui é a justiça prática manifestada no viver santo. Este é o objetivo de Deus ao libertar o crente do pecado e da lei. Contudo, a verdadeira frutificação só pode ser produzida vivendo-se no gozo consciente da vida eterna com “aqu’Ele que ressuscitou de entre os mortos”. Quando permanecemos com Cristo nessa nova esfera de vida, o Espírito de Deus está livre para trabalhar em nós para manter a carne sob controle e produzir frutos em nossas vidas no caminho da justiça prática. Paulo falará mais disso no capítulo 8.
Cap. 7:5 - Paulo lembra aos crentes judeus que quando estavam “na carne” sob a lei, seus esforços em guardá-la não produziam santidade em suas vidas. De fato, em vez de a lei controlar a carne, fez o oposto – suscitou a carne. Paulo menciona este fato: “Pois, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte” (AIBB). Assim que a carne é instruída a não fazer algo, isso se torna a exata coisa que ela quer fazer. J. N. Darby disse: “Se eu dissesse a um amante do dinheiro: 'Você não deve desejar esse ouro', isso apenas lhe despertaria o desejo” (Collected Writings, vol. 26, pág. 158). Os crentes dentre os judeus deveriam saber disso melhor do que qualquer um, tendo estado sob a lei formalmente.
Todos nós igualmente sabemos disso por experiência, mesmo que não tenhamos formalmente estado sob a lei. Se colocarmos alguma restrição na carne, ela imediatamente se rebela contra a restrição. Isto é porque “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (cap. 8:7). Assim, colocar-se sob restrições legais em um esforço para aperfeiçoar a santidade só será contraproducente, porque o guardar da lei só produz “morte” moral naqueles que se colocam sob suas exigências. Legalistas evidentemente não sabem disso e continuam colocando seus convertidos sob a lei. Quanto mais cedo aprendermos isso melhor, porque é só então que vamos parar de procurar sucesso pelo guardar da lei.
        Paulo usa uma frase aqui (“na carne”) que é única para sua doutrina. Existem outras frases desse tipo: 
  • “Em Adão” é a nossa antiga posição diante de Deus (1 Co 15:22).
  • “Em Cristo” é a nossa nova posição diante de Deus (Rm 3:24).
  • “Na carne” é o nosso antigo estado ou condição (Rm 7:5).
  • “No Espírito” é o nosso novo estado ou condição (Rm 8:9). 

Deve notar-se que, embora não estejamos na carne, a carne ainda está em nós. Ela não será removida até estarmos com o Senhor. 
Cap. 7:6 – Paulo resume o que precede, dizendo: “Mas agora estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra”. Nisso, ele reafirma o grande princípio contido nesses capítulos. É simplesmente que não podemos estar vivos naquilo em que morremos – seja em conexão com o pecado ou com a lei. A lei não foi posta de lado, invalidada ou revogada; é o crente que se foi. Ele está morto em virtude de sua identificação com a morte de Cristo. O crente judeu, portanto, não está mais sob a lei.
Assim, o caminho de Deus para a santificação prática não é pelo guardar da lei. O guardar da lei para a santidade é um princípio carnal que pressupõe que há força no homem para produzir o bem. Este não é o caminho de Deus para a santificação prática. O legalista argumenta que o crente pode guardar a lei porque ele tem uma nova natureza e o Espírito Santo que nele habita o capacita a fazê-lo. É verdade que a nova natureza (que nos dá vontades corretas) e o Espírito Santo (que dá o poder) capacitam o crente a andar em santidade, mas o crente não o faz por causa de exigências legais, mas porque Cristo é o seu objetivo. Quando ocupado com Cristo, o crente, na prática, excede em muito as exigências morais da lei. Em Gálatas 5:22-23, Paulo lista várias coisas que são “o fruto do Espírito” no crente – “caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança [autocontrole]. Ele então acrescenta: “Contra estas coisas não há lei”. Isto é, não há lei que possa ser colocada sobre o crente que produza essas coisas! No sistema da graça de Deus, o crente avança sob um princípio muito mais alto do que a obediência legal à lei de Moisés.

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