Apresentando-se
sob o Princípio da Substituição
Cap. 6:13 – Poderíamos perguntar:
“Como o raciocínio, a partir da perspectiva do novo ‘eu’, pode nos libertar da
tentação quando ela ataca?” É bem verdade que conhecer certos pontos da
doutrina e ter boa mente não são suficientes; deve haver uma apresentação a Deus. Paulo diz: “Nem tão pouco apresenteis os vossos
membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus,
como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de
justiça”. Ele introduz aqui o princípio da substituição[1].
Ele diz que desde que nós somos “como
vivos dentre mortos” e vivendo nessa nova esfera de vida para Deus que foi
aberta para nós na ressurreição de Cristo, no poder dessa vida, podemos agora
recusar a carne. Não precisamos mais apresentar os “membros” de nossos corpos (nossos ouvidos, olhos, mãos, pés etc.)
aos desejos da carne. Vivendo nessa esfera de vida com o que temos em Cristo em
comunhão com Deus, haverá o poder prático para resistir à carne. No capítulo 8,
Paulo nos mostrará que esse poder não é resultado de nossos esforços pessoais
para manter a carne rebaixada, mas pelo Espírito Santo trabalhando em nós para
neutralizá-la.
Nota: devemos apresentar-nos “como vivos dentre mortos” – isto
é, desde a perspectiva daqueles que vivem nessa nova esfera de vida com Deus.
Se tentarmos nos apresentar à justiça, mas ao mesmo tempo, estivermos vivendo
nossas vidas no antigo estado de Adão, falharemos miseravelmente. Recordamos de
um irmão que lutava contra as concupiscências da carne que controlavam sua
vida, queixando-se de que a libertação da carne prometida pelo Cristianismo não
funcionava. Essencialmente, ele culpou Deus por prometer algo que não estava
acontecendo em sua vida como ele achava que deveria estar. Mas quando sua vida
foi examinada, descobriu-se que ele se cercava de quase todos os objetos e
atividades mundanos imagináveis – livros, revistas, vídeos, músicas, jogos,
companheiros mundanos, etc. Ele vivia nesse ambiente todos os dias desde a
manhã até a noite. É evidente que seu problema era que ainda vivia no antigo
estado de Adão (ou esfera de vida) ao qual o Cristão está declaradamente morto
e separado – e esperava estar livre da influência e do domínio do pecado! Ele
estava fazendo exatamente aquilo que Paulo insiste nos versículos 1-2, que não
devemos fazer. Ele continuava em pecado (o estado), depois de ser salvo. Não
era de admirar por que a carne estava se impondo em sua vida e ele estava
experimentando uma “falta de energia”.
No entanto, quando estamos ocupados
com a bem-aventurança do que é nosso nesta nova esfera de vida em comunhão com
Deus, não seremos controlados pelo pecado. Esse novo estado no qual Cristo vive
para Deus é caracterizado pelas “coisas
do Espírito” (cap. 8:5). Essas são coisas espirituais relacionadas aos
interesses de Cristo. São coisas como: ler as Escrituras, orar, participar de
reuniões Cristãs para adoração e ministério, cantar hinos e cânticos
espirituais, ler literatura Cristã, ouvir ministério Cristão gravado, ensinar a
verdade, compartilhar o evangelho, meditar nas coisas espirituais ao ocupar-nos
de nossas responsabilidades diárias, servindo ao Senhor com boas obras,
visitando, etc. Vivendo nesta esfera, o poder do Espírito será evidente em
manter a carne sob controle (cap. 8:2).
Assim, o princípio da substituição é o segredo do poder moral. Este
princípio é encontrado em vários lugares nas Escrituras. Por exemplo, “Manteiga e mel comerá, até que ele saiba
rejeitar o mal e escolher o bem” (Is 7:15). Leite e mel eram coisas boas
relacionadas à herança de Israel (Êx 3:8; Dt 11:9). Eles tipificam as ricas
coisas espirituais de nossa herança celestial (1 Pe 1:4). Quando estas coisas
são apreciadas, o mal pode ser evitado. Gálatas 5:16 diz: “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da
carne”. Isto é, quando vivemos em nossa apropriada esfera Cristã de vida (“em Espírito”), o poder do Espírito vai
manter a carne sob controle.
“Apresentar” é mencionado duas vezes neste versículo, mas cada
ocorrência tem um tempo verbal diferente no grego. Um está no tempo presente ou
contínuo: “Nem tão pouco apresenteis
os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade”. Isso significa
que em nenhum momento devemos pensar em nos apresentar ao pecado. O outro é o
tempo verbal aoristo, que se refere a algo para ser feito de uma vez por todas:
“mas apresentai-vos a Deus”.
Este deve ser um ato consumado. (“vos”
incluiria nossos espíritos, almas e os membros de nossos corpos, etc.) Há,
portanto, algo que deveríamos estar fazendo diariamente
– isto é, não continuar “apresentando”
(NASB) os membros de nossos corpos como instrumentos de injustiça. E também há
algo que deveríamos ter feito de uma vez
por todas – que é “apresentar”
nós mesmos e nossos membros como instrumentos de justiça.
Cap. 6:14 – Paulo conclui afirmando
enfaticamente: “Porque o pecado não terá
domínio sobre vós”. Isto é, literalmente, “O pecado não governará como senhor sobre você”. Isto é uma
promessa. Não é o que poderia ser, ou o que esperamos ter, mas o que teremos em
nossas vidas se aplicarmos esses princípios de libertação a nós mesmos. Paulo
acrescenta outra coisa: “pois não estais
debaixo da lei, mas debaixo da graça”. A lei é um sistema de demanda, mas a graça é um sistema de oferta. Deus não está demandando dos
crentes poder para andarem corretamente porque Ele sabe que não o temos. Ele,
portanto, oferece-nos poder!
As reivindicações da lei supõem que
temos poder para obedecer aos seus mandamentos – e podemos ter pensado (equivocadamente)
que tínhamos esse poder – mas a graça supõe que não temos absolutamente nada. Isso
nos ensina que, vivendo em vida ressurreta no poder do Espírito Santo – naquela
esfera de coisas onde Cristo vive para Deus – obtemos Seu poder vitorioso em
lugar de nossa própria completa impotência.
Corra
João e viva, a lei ordena vá,
No
entanto, nem pernas ou mãos há;
Excelentes
novas o evangelho traz,
Estimas-me
voar e asas me dás.
A lição básica que devemos aprender
com esta passagem é que a verdadeira santidade não será efetivada em nossas vidas por nossos próprios esforços,
mas pelo poder da graça que opera em nós. H. Smith disse: “Estar debaixo da
graça não apenas traz bênçãos para nós, mas nos sustenta e nos capacita a vencer...
Uma pessoa insubmissa [que não se apresenta] está sempre em perigo de pecar,
mas uma pessoa submissa [que se apresenta a Deus] será fortalecida com poder
pela graça de Deus”. A libertação, portanto, só pode ser operada pelo princípio
da substituição.
Para resumir até agora, tivemos
três coisas diante de nós na primeira metade do capítulo 6:
- Aprendendo de Deus (vs. 1-11).
- Considerando com Deus (v. 12).
- Apresentando-se a Deus (vs. 13-14).
[1] N. do T.: H. P.
Barker deu a seguinte conveniente ilustração sobre o princípio da substituição,
dizendo: "Suponha que eu tenha em minha mão um copo, aparentemente vazio.
Na verdade, ele está cheio de ar. Como posso esvaziá-lo do ar? Não por agitá-lo
freneticamente com a boca para baixo, nem limpando-o com um pano. Ele é
esvaziado por simplesmente estar parado em uma mesa enquanto é enchido com
água. Eu o esvazio de ar enchendo-o com água." (The Holy Spirit Here Today, pág. 78).
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