O Considerar em Fé
Cap. 6:11 – Tendo estabelecido
esses fatos doutrinários referentes à libertação, Paulo prossegue para a
próxima coisa – o considerar em fé. Ele diz: “Assim também vós considerai-vos como
mortos para o pecado”. Esta é a primeira exortação na epístola e, como toda
a exortação, introduz a nossa responsabilidade. Deus quer que sejamos
responsavelmente exercitados neste assunto. Devemos “considerar” os fatos que nossa fé abraçou. Ou seja, devemos
considerar o que sabemos. É por isso que o conhecimento é importante. Se não
soubermos corretamente, não podemos considerar corretamente. Mas uma vez que
sabemos, então o considerar que este versículo convoca, torna-se claro para
nós.
Como mencionado em nossos
comentários no capítulo 4:1-5, “considerar”
significa “pensar ou julgar que seja
assim”. Em primeiro lugar, devemos aplicar essas coisas a nós mesmos em
nossas mentes. Devemos considerar e crer que o que é verdade sobre Cristo é
verdade também sobre nós. Uma vez que a ligação de Cristo com o pecado foi
rompida por meio da morte, temos o direito, por conta de nossa identificação
com Ele, de nos considerarmos como “mortos
para o pecado” e, assim, também ter nossas conexões rompidas com o pecado!
Isto tem sido ilustrado da seguinte forma: É como um homem que pagou a outro
homem uma grande quantia para ir à guerra em seu lugar. Quando o governo lhe
escreveu dizendo que aquele homem havia morrido em batalha, e que ele agora
teria de ir para a guerra, ele respondeu e disse que não poderia ir porque
estava morto. Ele percebeu que tinha o direito de se considerar morto porque
seu substituto havia morrido.
Este considerar não deve ser
confundido com o considerar do capítulo 4:5. O capítulo 4:5 refere-se a
considerar que ocorre na mente de Deus
quando cremos no evangelho. Aqui no capítulo 6:11 é o que ocorre na mente do crente em vista da morte de Cristo
para o pecado. A história de Isaque e Ismael ilustra isso. Isaque é um tipo de
Cristo e Ismael é um tipo da carne. Quando Isaque recebeu seu lugar de direito
como filho na casa de Abraão, Deus não mais reconheceu Ismael como filho de
Abraão (Gn 21). Depois disso, Ele chamou Isaque de “único filho” de Abraão, embora Ismael ainda estivesse vivo! (Gn
22:2, 12, 16) Isso ilustra a verdade de que Deus não mais reconhece a primeira
ordem do homem, segundo carne no crente. Assim
sendo, temos o direito de considerar desta forma também. Assim, devemos
considerar como Deus considera esse fato.
Um crente poderia dizer: “Mas o
pecado não está morto em mim”. Mas o apóstolo não diz que o pecado está morto
em nós; ele diz que nós estamos mortos para
o pecado. A natureza pecaminosa ainda está em nós e continuará a atrair-nos,
mas devemos nos considerar mortos
para o pecado. Estamos mortos e, portanto, separados dele. Isso significa que
devemos nos ver como separados e dissociados do pecado (o princípio do mal),
mesmo que o pecado (a natureza) ainda esteja em nós.
Alguns, tendo lido o que Paulo
disse aqui, ficaram pensando: “Agora eu entendi; eu preciso morrer para o
pecado para que Cristo possa viver em mim!” Mas isso não é isso que Paulo está ensinando. Ele não está nos exortando a
morrer para o pecado; está afirmando que estamos
mortos para o pecado – que estamos separados dele. Este é um fato consumado;
não é algo que precisamos fazer por um processo de autodisciplina, etc. J. N.
Darby observou: “Nunca é dito nas Escrituras que temos de morrer para o pecado”
(Collected Writings, vol. 34, pág.
406). Nem deveríamos pensar que a aplicação da verdade de nossa identificação
com a morte de Cristo é algo para nos enganar mentalmente; Porém é acreditar em
algo que é realmente verdadeiro diante de Deus. Deus julgou o pecado, e Ele não
mais o reconhece como sendo nós[1].
Então, devemos acreditar no que Ele diz e agir de acordo com isso.
“Considerar”, como sabemos, tem a
ver com a nossa forma de pensar. Paulo está nos mostrando aqui que precisamos
raciocinar a partir da perspectiva correta. Quando a tentação se apresenta e a
natureza pecaminosa em nós gostaria de responder, não devemos mais raciocinar a
partir da perspectiva de quem éramos
sob Adão, mas de quem somos sob
Cristo. Temos o direito de tratar o pecado como não sendo nós. Podemos dizer –
e sinceramente dizer – “Eu não quero essa coisa má...” porque a nova natureza
em nós certamente não a quer. (Se, no entanto, permitirmos que a carne aja, devemos
nos apropriar do pecado e confessá-lo nosso pecado a Deus, nosso Pai, com
verdadeiro arrependimento, e Ele nos restaurará à comunhão Consigo mesmo – 1 Jo
1:9).
O homem sem fé do mundo não entende
este princípio. Ele nos diria que estamos apenas mentindo para nós mesmos
porque realmente queremos essas coisas más, como qualquer outra pessoa. Mas
isto não é um artifício mental, que Paulo está nos dizendo, para brincar conosco; é
simplesmente acreditar no que Deus diz sobre nós e raciocinar a partir dessa
perspectiva.
Paulo também diz que estamos “vivos para Deus em Cristo Jesus”. Isso
mostra que também somos privilegiados por nos considerarmos vivos com Cristo
nessa nova esfera de vida onde Ele vive para Deus. Temos uma nova vida de Deus
que é adequada para essa esfera de vida onde Cristo está em ressurreição. Assim,
devemos viver nessa esfera em comunhão com Deus, e raciocinar a partir da
perspectiva do novo “eu”. Este é um privilégio que temos por causa dessa grande
verdade.
Cap.
6:12 – Paulo prossegue e diz: “Não reine
portanto o pecado em vosso corpo mortal”. Não podemos impedir que o pecado
reine no mundo onde é o mestre de todos, mas por causa do que aconteceu na
morte de Cristo, não precisamos deixar que ele “reine” em nossas vidas. Nota: ele não diz: “Não habite, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal” – porque não nos livraremos da velha natureza do pecado até que o
Senhor venha no Arrebatamento. Antes, ele diz: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal”. Isso mostra
que, uma vez que Deus providenciou um meio de libertação do pecado pelos
princípios que Paulo nos deu, temos a obrigação de recusar ao pecado quaisquer
direitos que queira ter sobre nós. O crente é quem segura as rédeas agora; ele
pode escolher em qual estado ou esfera deseja viver, e assim é responsável por
não permitir que o pecado use seu corpo para suas concupiscências. Portanto,
não temos desculpa para deixar o pecado reinar em nossas vidas. Paulo menciona
que nossos corpos são “mortais”, que
se refere a eles estarem sujeitos à morte, mas há um dia chegando (o
Arrebatamento) quando “isto que é mortal
se revista [revestirá] da
imortalidade” (1 Co 15:53). Então estaremos livres da natureza do pecado e
de todos os efeitos que o pecado teve em nossos corpos.
[1] N. do T.: Paulo estava usando
a palavra “pecado” para representar a própria pessoa. Então Deus olha para um
crente e não o vê mais como sendo dominado pela natureza do pecado; somos
vistos em uma nova posição, em uma nova vida, tendo a vida de Cristo e uma nova
natureza. Deus não vê a “natureza pecaminosa” como sendo “nós”. Ele vê o
verdadeiro “nós” como sendo a vida que está em uma “nova” posição diante dele
que não é capaz de pecar. Nossa nova natureza não quer pecar e não pode pecar.
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