1) PESSOA DESCOBRE A PRESENÇA E A ATIVIDADE DA NATUREZA PECAMINOSA EM SUA ALMA
(cap. 7:7-13)
Na seção anterior da
epístola, que tem a ver com os pecados,
Paulo explicou que a lei ilumina as consciências dos homens e mostra-lhes que
eles pecaram (Rm 3:19-20). Isto testemunha o fato de que todos pecaram e estão
destituídos da glória de Deus (cap. 3:23; 1 Tm 1:8-10; Tg 2:9-10). Agora nesta
seção da epístola, que vem tratando do assunto do pecado (a natureza maligna no homem), Paulo mostra que a lei também
fará com que uma alma vivificada detecte a presença da natureza do pecado em si
mesma, e assim se torne consciente do que ela é diante de Deus em seu estado
pecaminoso.
Cap.
7:7-8 – Como mencionado, a primeira obra de Deus em nossas almas é a
comunicação da vida divina por meio do novo nascimento (vivificação), pelo qual
nos tornamos conscientes de Deus de uma nova maneira. Como resultado de ter
vida divina, haverá uma genuína busca por Deus e por santidade. Se a pessoa
teve uma educação na qual foi exposta à lei – como Paulo supõe aqui – ela
tentará sinceramente atender às exigências da lei. Tendo luz limitada, irá
presumir que o guardar da lei é o caminho para obter santidade, não sabendo que
esse não é o caminho de Deus para a
santificação prática.
Já
que o guardar da lei não é o caminho de Deus para a santidade, poderíamos
concluir que a lei é inútil, até mesmo pecaminosa. Paulo antecipa essa
suposição equivocada e diz: “Que diremos
pois? É a lei pecado? De modo nenhum [longe
esteja o pensamento – JND]: mas eu
não conheci o pecado [a natureza pecaminosa] senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei
não dissesse: Não cobiçarás. Mas o
pecado, tomando ocasião [um ponto
para ataque – JND] pelo mandamento,
obrou em mim toda a concupiscência: porquanto sem a lei estava morto o pecado”. Isso mostra que a lei certamente tem
um uso. O décimo mandamento que Paulo cita aqui se distingue dos outros nove,
pois não trata de uma ação má, mas
sim de uma concupiscência no coração.
Somos condenados por este mandamento, sem termos feito nenhum ato específico de
pecado, e assim somos levados a perceber que temos uma natureza corrupta.
Enquanto a lei certamente trata de atos de pecado (obras más), dificilmente
precisamos dela para dizer-nos que fizemos algo errado porque temos
consciência. Mas a consciência não nos revelará nosso estado interior de
pecado. A lei, por outro lado, faz com que a alma vivificada descubra a
presença de sua natureza maligna.
J.
N. Darby observou: “A lei tem seu uso, a saber, em trazer a consciência do que
somos – do nosso estado. Foi culpa da lei, este domínio do pecado, enquanto
estávamos sob ela? Não, foi culpa do pecado e da concupiscência que a lei
condenou. ‘Mas isso’, diz o apóstolo, ‘eu não conheceria, se a lei não
dissesse: Não cobiçarás’. Se ele tivesse cometido um homicídio, teria se dado
conta do fato; sua consciência natural teria tomado conhecimento disso. Mas não
estamos tratando dos pecados agora (como antes observado), mas do pecado. Eu
não conheceria a concupiscência, a menos que a lei tivesse mostrado a
malignidade em seus primeiros movimentos. Muitos não cometeram crimes – nem mataram,
nem roubaram nem cometeram adultério; mas quem nunca cobiçou?.... O objetivo
aqui é detectar a natureza maligna por seu primeiro movimento – concupiscência.
Não, de fato, o que fizemos, mas o que somos” (Collected Writings, vol. 26, pág. 158-159). Assim, se permitirmos
que o décimo mandamento da lei nos examine, ele nos mostrará o que somos diante de Deus quanto à nossa
natureza.
Ele
diz: “porquanto sem a lei estava morto o pecado” (v. 8b). Isto
é, antes que a lei tenha ação sobre a alma de uma pessoa, ela está inconsciente
quanto à presença e atividade de sua natureza pecaminosa. Nesse estado, ela não
está ciente das obras do pecado em seu interior porque sua consciência não foi
penetrada pela voz de autoridade das santas exigências de Deus. A pessoa vive
de acordo com a energia irresistível do pecado e é levada inconscientemente por
sua força. Nesse estado, não é possível que esteja sensível à presença da
natureza pecaminosa, porque está “absolutamente identificada” com ela.
Cap.
7:9-10 – Ele diz (hipoteticamente): “E
eu, nalgum tempo, vivia sem lei”. Isto é, no estado de estando “morto o pecado”, ele estava vivo para
a vida aqui na Terra sob os ditames do pecado, mas bastante inconsciente do seu
poder e seu caráter escravizador. Mas quando Deus começou a trabalhar em sua
alma vivificada, tudo mudou. Ele diz: “mas,
vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri”. Quando a voz autoritária
de Deus na lei alcançou sua alma vivificada, isto colocou o pecado em ação – “reviveu o pecado”. A lei traçou uma linha e o proibiu de passar
por sobre a linha. Dizia: “Não
cobiçarás”. O pecado respondeu prontamente passando por cima dela, e ele
desejou em seu coração a exata coisa que a lei proibia. E, como consequência de
quebrar a lei, a lei o condenou à morte como um transgressor, e assim ele diz, “e eu morri”. Ele concluiu: “E o mandamento que era para vida, achei eu
que me era para morte”.
Isto é, a lei coloca a vida diante de nós, dizendo: “faze isso, e viverás” (Lc 10:28), mas como ele não guardou as
exigências da lei, ela o condenou à morte.
M.
C. G. disse: “Como um nadador tranquilamente flutuando na correnteza. Ele não
sente a força da correnteza, enquanto nela flutua, pois está temporária e
absolutamente identificado com ela. Todo movimento dessa correnteza é também
seu movimento; para ele, a quantidade de energia viva da correnteza é desconhecida
e sem vida. Mas, enquanto desfruta de forma indiferente dos momentos que
passam, uma voz da margem o alcança com séria e autoritária advertência sobre
as quedas que estão escondidas da vista, em direção as quais a correnteza
traiçoeira certamente o carrega. E agora? Coloque novamente em termos das
Escrituras: ‘mas, vindo o mandamento,
reviveu o pecado, e eu morri’. Sendo ouvida a advertência, a indiferença é
banida rapidamente. O nadador, alarmado com o perigo repentinamente descoberto,
se empenha para esforçar todos os seus músculos para avançar contra a correnteza
que outrora o carregava em seu seio perfeitamente sem perturbações; ele agora
se tornou perfeitamente consciente da energia viva da correnteza; ela está viva
com um poder invencível para ele agora, e com ela a sentença de morte, qual
seja, que o esforço próprio, foi provado ser inútil, ‘eu morri’” (The Christian
Friend, vol. 23, pág. 157).
Cap.
7:11-13 – Paulo diz (hipoteticamente) que o pecado o havia “enganado” totalmente, tornando-o insensível à sua condição
deplorável. Também, pelo 10º mandamento, o “matou”.
A questão é: “Quem é o culpado por esta morte?” Podemos pensar que, se a lei
provoca a concupiscência na alma e causa a morte, então certamente deve ser
algo mau. Longe de ser mau, Paulo diz que o mandamento é “santo, justo e bom”. Assim, a lei não tem culpa nesta morte. Ele
então pergunta: “Logo tornou-se-me o bom
em morte?” Isto é, foi a lei que morreu? Ele responde: “De modo nenhum [longe
seja o pensamento – JND]”. A lei
não havia morrido; foi ele quem morreu! A lei (particularmente o 10º
mandamento) apenas fez com que o pecado se “mostrasse”
como realmente é; ela traz à luz o verdadeiro caráter da natureza pecaminosa
como sendo “excessivamente maligno”.
Assim, a lei não só
fará com que um homem descubra que pecou, mas se compreendida apropriadamente,
também lhe mostrará que seu estado é excessivamente pecaminoso. J. N. Darby disse: “A lei se aplica ao homem
na carne; mas nós morremos, não estamos na carne: quando estávamos, aplicava-se. Aplicada à carne, provocou o pecado
e condenou o pecador. Mas ele morreu sob ela, quando estava sob ela – morreu
sob ela em Cristo” (Collected Writings,
vol. 10, pág. 10). Isso mostra que a lei serve a um propósito; ao condenar a
concupiscência no coração humano, manifesta o fato de que todos os homens têm
uma natureza pecaminosa – quem não cobiçou? E, no fracasso de uma pessoa em
manter a lei, ela o condena à morte. Mas tendo operado a morte na pessoa, a lei
então não tem mais aplicação para ela, pois não tem nada a dizer a um homem
morto. Assim, está livre dela! (cap. 6:7) Esse conhecimento é importante no processo
de obtenção de libertação, pois não
será por meio da lei. A lei detecta a concupiscência, mas não a remove.
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