A
JUSTIÇA DE DEUS
Capítulo
3:21-31
Capítulo 3:21 – Ele diz: “Mas agora se manifestou sem [afora da]
a lei a justiça de Deus”. Nesta
declaração, Paulo nos leva à cruz de Cristo. A justiça de Deus foi ali “manifestada” em sua perfeição para
todos verem. (No grego, esta frase está em um tempo verbal que indica que a
manifestação da justiça de Deus é algo que ocorreu e agora permanece como um
testamento para todos contemplarem). A manifestação da justiça de Deus não é
algo que Ele faz nas pessoas para
fazê-las entender e crer no evangelho. (Essa é uma obra diferente de Deus
produzida pelo poder vivificador do Espírito, que instrutores bíblicos chamam
de “iluminação”.) Em vez disso, a manifestação da justiça de Deus aponta para
algo que Deus fez na cruz e o tornou conhecido por meio do evangelho para todos
entenderem e crerem. Se as pessoas olhassem para a cruz de Cristo com o
entendimento que a fé dá, elas veriam a justiça de Deus manifestada em sua
perfeição.
Como mencionado em nossos
comentários no capítulo 1:17, “a justiça
de Deus” tem a ver com a maneira pela qual Deus é capaz de salvar os
pecadores sem comprometer o que Ele é em Si mesmo como um Deus santo e justo. O
fato de que Paulo diz que essa justiça é “de
Deus” mostra que Deus é a fonte dela. Ele criou o plano de salvação para o
homem.
A necessidade da justiça de Deus é
grande. O pecado do homem criou um dilema. Sendo que Deus é um Deus de amor,
Sua própria natureza pede a bênção do homem, porque Ele ama todos os homens.
Mas, sendo um Deus santo, Sua natureza santa justamente exige que o homem seja
punido por seus pecados (Sl 89:14; Hb 2:2). Se Deus agisse de acordo com o Seu
coração de amor e trouxesse homens para a bênção sem julgar seus pecados, seria
à custa de Sua santidade, e assim Ele deixaria de ser justo. Ele não pode fazer
isso e ainda ser justo. Por outro lado, se Deus agisse apenas de acordo com Sua
natureza santa e julgasse homens de acordo com as reivindicações da justiça
divina, todos os homens seriam com justiça enviados para o inferno – mas o amor
de Deus nunca seria conhecido. Como então Deus pode salvar os homens e ao mesmo
tempo permanecer justo? É aqui que o evangelho surge tão ternamente. Declara a
justiça de Deus e anuncia as boas-novas de que Ele encontrou uma maneira de
satisfazer Suas santas reivindicações contra o pecado e, ao mesmo tempo, alcançar
em amor para salvar os pecadores que creem.
Tudo isso é por causa do que Ele
fez na cruz de Cristo; foi lá que Deus assumiu toda a questão do pecado e a resolveu
para a Sua própria glória e para a bênção do homem. Ele enviou Seu Filho para
ser o Emissário do pecado, e em Sua morte sacrificial, Deus julgou o pecado de
acordo com as exigências de Sua santidade. Na cruz, o Senhor Jesus tomou o
lugar do crente diante de Deus e carregou o juízo dos pecados em Seu “corpo sobre o madeiro” (1 Pe 2:24).
Sua obra “consumada” na cruz (Jo
19:30) rendeu uma satisfação completa às reivindicações da justiça divina e
pagou o preço pelos pecados do crente, e também por toda a contaminação do
pecado na criação (Hb 2:9 – “para que
provasse a morte por todas as coisas” – JND). Mais do que isso, na cruz, o
amor de Deus foi exibido da melhor forma, pois Ele deu Seu Filho unigênito como
Emissário do pecado. Com a questão do pecado totalmente resolvida, Deus veio
aos homens com as boas novas de que Ele pode – em uma base justa – redimir,
perdoar, justificar e reconciliar o pecador que crê. Assim, o evangelho
apresenta Deus como sendo “justo e
justificador daquele que tem fé em Jesus” (cap. 3:26). Nada funcionará melhor
para a paz do crente do que aprender que Deus o salvou e que Ele fez isso com
justiça.
É interessante notar que, ao
apresentar o evangelho nesta passagem em Romanos, Paulo não começa com o amor
de Deus, mas sim com a justiça de Deus. Isto é porque as reivindicações de Deus
contra o pecado devem ser satisfeitas primeiro, antes que o amor de Deus possa
ser proclamado ao homem.
A
perfeita justiça de Deus
É
testemunhada no sangue do Salvador;
É
na cruz de Cristo que vemos
Sua
justiça, também maravilhosa graça.
Deus
não poderia deixar passar o pecador,
Seu
pecado exige que morra;
Mas
na cruz de Cristo vemos
Como
Deus pode salvar, ainda que seja justo.
O
pecado pousa na cabeça de Jesus
É
no Seu sangue que a dívida do pecado é paga;
Justiça
severa não pode exigir mais,
E
a misericórdia pode entregar sua provisão.
L. F. # 67 App.
Paulo também diz que a justiça de
Deus é “sem lei”. A Lei mosaica,
como sabemos, é um sistema baseado em obras que recompensa o homem por fazer o
que é certo (Lc 10:28) e condena o homem por fazer o que é errado (Tg 2:10). Ao
declarar que a justiça de Deus é “sem”
Lei, Paulo estava indicando que essa bênção que Deus tem para o homem lhe é
assegurada em um princípio completamente diferente daquele que dependida do seu
comportamento. A justiça de Deus, portanto, não é sobre as obras do homem; é
sobre a obra de Deus. Assim, a justiça de Deus não é Deus exigindo algo do
homem (como a Lei faz), nem é o homem agindo por Deus (como as religiões feitas
pelo homem tentam fazer), mas sim, é Deus agindo para o homem em amor e graça para salvar os pecadores, mas, ao
mesmo tempo, não comprometendo o que Ele é como um Deus santo e justo.
Paulo também acrescenta: “tendo o testemunho da lei e dos profetas”.
Isso significa que a justiça de Deus em prover salvação para os homens foi
predita em tipos e sombras da Lei, e também foi anunciada pelos profetas de
Israel (ver capítulo 1:2). Existem várias referências a essas coisas no Velho
Testamento. Por exemplo, no Dia da Expiação (Levítico 16), o sumo sacerdote
colocava sangue de uma vítima “sobre o
propiciatório”, apontando em tipo para a obra de Cristo satisfazendo as
reivindicações de Deus contra o pecado. Ele também colocava um pouco do mesmo
sangue no chão “diante do propiciatório”,
apontando também em tipo para a obra de Cristo assegurando a base da redenção
na qual o crente repousa. Outro exemplo é encontrado no Salmo 85:10. Ele diz: “A misericórdia e a verdade se encontraram:
a justiça e a paz se beijaram”. Esta é uma referência à obra consumada de
Cristo, atendendo às santas reivindicações de Deus contra o pecado e abrindo
caminho para que Deus alcance em amor aos pecadores.