SAUDAÇÕES DE ABERTURA
Capítulo 1:1-17
Cap. 1:1-7 – No momento em que
escrevia esta carta, Paulo não tinha estado em Roma e, portanto, leva um pouco
mais de tempo do que costume em suas epístolas para apresentar-se aos santos de
lá.
V. 1 – Ele começa chamando a si
mesmo de “servo de Cristo Jesus”
(ATB). Ser “servo” de Cristo é algo
mais do que ser salvo pela fé. Refere-se a um exercício pessoal que ocorreu na
vida de um crente para voluntariamente se entregar à causa de Cristo neste
mundo. O Senhor não ordena que ninguém seja Seu servo; todos os que se fizeram
assim, o fizeram por vontade própria. Isto vem como resultado de perceber que
fomos “comprados por bom preço” (1
Co 7:22-23). Ao considerar o custo de nossa redenção – que Cristo
voluntariamente tomou nosso lugar sob o juízo de Deus – nosso coração fica
profundamente comovido, e nós respondemos dando nossa vida (nosso tempo e
energia) a Cristo como Seu servo. Paulo havia passado por esse exercício e se
colocara sem reservas sob o senhorio de Cristo para ser usado em Seu serviço da
maneira que Ele desejasse. Assim, ele se apresenta aos romanos como alguém que
foi totalmente “vendido” para Cristo.
A Versão King James (KJV) diz, “servo de Jesus Cristo”, mas
algumas traduções dizem – “servo de Cristo
Jesus” (ATB) – o que entendemos ser a tradução correta. Isso é
significativo. Como regra, quando Paulo diz “Jesus Cristo” – usando Seu nome de Humanidade (“Jesus”) antes de Seu título (“Cristo”) o Ungido – está se referindo à
Sua vinda ao mundo para fazer a vontade de Deus e realizar a redenção. Ao passo
que, quando Paulo diz: “Cristo Jesus”
(colocando seu título diante de seu nome de humanidade), refere-se a Ele como
tendo completado a redenção, ressuscitado, ascendido e assentado à destra de
Deus como um Homem glorificado. É interessante ver que Pedro se apresenta como
servo e apóstolo de “Jesus Cristo”
(1 Pe 1:1; 2 Pe 1:1), ao passo que Paulo se vê como servo e apóstolo de “Cristo Jesus”. Isso é porque Pedro
conheceu ao Senhor e foi por Ele chamado quando veio ao mundo em Sua primeira
vinda, mas Paulo foi chamado por Ele e O conheceu quando era um Homem
glorificado no alto.
Acreditando que os santos de Roma
deviam conhecer algo de sua história pessoal com o Senhor, Paulo menciona dois eventos no versículo 1 que
ocorreram em sua vida. Primeiramente, ele foi “um apóstolo chamado” (JND). Isso aconteceu no caminho para Damasco
quando se submeteu ao Senhor em fé (At 9:1-6). A versão King James (KJV) diz “chamado para ser um apóstolo”. As
palavras “para ser” estão em
itálico, o que indica que elas não estão no texto grego, mas foram adicionadas
pelos tradutores para ajudar na leitura da passagem. Infelizmente, essas
palavras, embora bem intencionadas, induzem a erro e implicam que Paulo teve de
passar por certo processo religioso depois de ter sido salvo para se tornar um
apóstolo. Isso decorre da ideia clerical criada pelo homem, que tem prevalecido
na Igreja por séculos, na qual uma pessoa passa por um processo de treinamento
em um seminário, ao qual ele (ou ela) é ordenado a um lugar no “Ministério”. No
entanto, o texto deveria dizer, “chamado
apóstolo” ou “apóstolo por chamado”.
Isso significa que ele recebeu seu apostolado no momento em que obedeceu ao
chamado do evangelho e foi salvo.
A segunda coisa que Paulo menciona
é que ele havia sido “separado para o
evangelho de Deus”. Isso aconteceu em Antioquia cerca de dez anos depois,
quando o Espírito de Deus disse: “Apartai-Me
a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13:2). Por
isso, Paulo recebeu seu apostolado no momento em que foi salvo, mas não foi
enviado pelo Senhor para fazer a obra de um apóstolo até algum tempo depois.
Isso significa que, embora fosse um apóstolo e tivesse se colocado sob o
Senhorio de Cristo como Seu servo, ele precisava de tempo para crescer e
amadurecer nas coisas de Deus antes que pudesse ser usado naquela obra. Esse
processo de crescimento espiritual e maturidade é necessário em todo convertido
(2 Pe 3:18).
A palavra “evangelho” significa “boas
notícias” ou “boas novas”.
Assim, a mensagem do evangelho é a boa notícia de Deus para o homem. É uma boa
notícia porque torna conhecidos os movimentos de Deus em graça para com os
homens, buscando sua bênção. (Graça é o favor imerecido de Deus para com o
homem.) Ao dizer que o evangelho é “de
Deus”, Paulo estava indicando que Deus é a fonte dessas boas notícias. Tudo emana do Seu coração de amor; Ele
desenhou o plano de salvação e, em graça, o trouxe para o homem.
Existem duas partes no “evangelho de Deus” que Paulo pregou.
Ele os distingue em outros lugares como:
- “O evangelho da graça de Deus” (At 20:24).
- “O evangelho da glória de Deus” (2 Co 4:4; 1 Tm 1:11).
O Evangelho da Graça de Deus
enfatiza a vinda de Cristo a este mundo para realizar a redenção; concentra-se
na condescendente graça de Deus descendo
para atender o homem em sua necessidade por aquilo que Cristo realizou na cruz.
O Evangelho da Glória de Deus enfatiza a ascensão
de Cristo ao céu como um Homem glorificado. Este último aspecto é o que Paulo
chama de “meu evangelho”. Ele
recebeu revelações especiais sobre a posição do crente e sua porção presente em
Cristo, o Homem glorificado à destra de Deus (Gl 1:11-12). Paulo pregou e
ensinou ambos os aspectos do evangelho de Deus. No livro de Atos, o vemos pregando o evangelho da graça de Deus
aos pecadores (At 20:24), mas na epístola aos Romanos, o vemos ensinando o evangelho aos santos.
V. 2 – Num parêntese Paulo
acrescenta que essa boa nova declarada no evangelho “(o qual prometido pelos Seus profetas nas santas escrituras)”[1].
No capítulo 3:21, ele é mais específico sobre isso, afirmando que certos
elementos do evangelho – como o “justiça
de Deus” – são “testemunhados pela
lei e pelos profetas” (KJV). Pedro também fala disso. Ele afirma que “a salvação” das nossas “almas” (um novo tipo de salvação que
os santos do Velho Testamento não conheceram) relacionada com “os sofrimentos de Cristo” tinha sido
profetizada nos escritos dos profetas do Velho Testamento (1 Pe 1:9-11). Ele
também menciona que aqueles profetas não entenderam o que haviam profetizado, e
que isso não ocorreu até que “o Espírito
Santo” fosse “enviado” do céu
nesses tempos Cristãos e que agora entendemos o que essas coisas são (1 Pe
1:12). Um exemplo disso é encontrado em Isaías 56:1: “Assim diz o Senhor: Mantende o juízo e fazei justiça, porque a Minha salvação
está prestes a vir, e a Minha justiça a manifestar-se”.
O fato de que a justiça de Deus e a
salvação da alma foram prometidas no Velho Testamento mostra que o evangelho é
algo distinto do “Mistério” (Ef
5:32). O Mistério é um segredo que Deus escondeu em Seu coração desde a
eternidade passada e não tornou conhecido até esses tempos Cristãos, quando o
Espírito Santo viria. Isso tem a ver com o Seu propósito de glorificar a Cristo
em duas esferas – no céu e na Terra – em um dia vindouro (o Milênio) por meio
de um vaso de testemunho especialmente formado – a Igreja, o corpo e a noiva de
Cristo. Em Romanos 16:25, Efésios 3:3-9 e Colossenses 1:23-27, Paulo mostra a
diferença entre o evangelho e o Mistério. Ele afirma naquelas passagens que o
Mistério não foi profetizado no Velho
Testamento, enquanto em Romanos 1:2 e Romanos 3:21, ele indica que os elementos
do evangelho foram declarados no Velho Testamento.
Vs. 3-4 – Paulo disse que o evangelho
diz respeito ao “Seu Filho Jesus
Cristo, nosso Senhor”. Assim, estava indicando que Cristo é o assunto do evangelho. Vamos entender
isso claramente; os homens não são o assunto do evangelho. Homens e mulheres
que creem são os beneficiários das bênçãos do evangelho, mas eles não são o seu
assunto – o assunto do evangelho é Cristo.
Ao introduzir a Pessoa a Quem o
evangelho se refere, declarando Seus nomes e títulos na ordem específica em que
Paulo fez, é muito instrutivo. Eles seguem uma ordem sequencial desde a
eternidade até a eternidade e nos dizem muito sobre Quem é Cristo.
- “Seu Filho” – Visto que Sua Filiação é mencionada antes de Seu nome de humanidade, Jesus, está se referindo ao Seu relacionamento com Deus o Pai antes de Se tornar um Homem, como o eterno Filho (Is 9:6).
- “Jesus” – Este nome se refere à Sua humanidade; foi Lhe dado quando Ele Se tornou um Homem – a encarnação (Lc 1:31).
- “Cristo” – Este título se refere ao Seu ofício Messiânico como o Ungido, o que Ele cumpriu em Seu ministério terreno (Jo 1:41; 4:25), mas foi rejeitado como tal e crucificado (Mc 14:61-65; 15:32).
- “Nosso Senhor” – Este título se refere à Sua exaltada posição na ressurreição, como ascendido à destra de Deus (At 2:32-36).
Assim, nesta declaração abrangente,
temos uma introdução à Pessoa de Cristo, desde Sua Filiação na eternidade
passada até Sua posição agora à direita de Deus como um Homem glorificado, e na
qual Ele governará o mundo vindouro como o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
O Espírito de Deus leva Paulo a
abrir outro parêntese (do versículo 3b até o final do versículo 4)[2] para discorrer mais acerca de Cristo sendo humano
e divino “(que veio da descendência de
Davi quanto à carne” (ATB). Isso se refere a Sua linhagem terrena, tendo
nascido na família do Rei Davi. Isso indica que o Senhor Jesus era um Homem
real e enfatiza a Sua humanidade. Ele
também foi “Declarado [marcado – JND] Filho de Deus em poder”. Isso enfatiza Sua divindade. Note que Paulo menciona que houve um momento no tempo em
que Ele veio da “descendência de Davi” (em
Sua encarnação), mas não diz que houve um momento em que Ele Se tornou “o Filho de Deus” porque Ele sempre foi,
desde a eternidade, o eterno Filho de Deus.
Paulo diz que Cristo foi marcado (identificado)
como o Filho de Deus “em poder”.
Isto é, Ele demonstrou que era o Filho de Deus por Seus atos de poder quando
andou aqui neste mundo. O poder em Seu ministério terrestre resultou do “Espírito de santidade” (JND) sendo com
Ele (Lc 4:14; At 10:38). Mencionar a palavra “santidade” indica que Seu poder para fazer milagres não veio de
alguma fonte corrupta (poder Satânico), mas do poder do Espírito Santo. A maior
barreira para a bênção é a própria morte, mas o Senhor venceu esse grande
obstáculo ressuscitando o morto – mostrando assim que Ele era o Filho de Deus,
o grande Dador da vida (Jo 1:4; 5:21; 11:25) . “A ressurreição dentre os mortos” (KJV) está no plural no grego e
deveria dizer literalmente, “a
ressurreição de mortos”. Esta é uma referência à filha de Jairo (Mt
9:18-26), à viúva do filho de Naim (Lc 7:12-17), Lázaro (Jo 11:14-46) e a
ressurreição do próprio Senhor – todos foram ressuscitados por Seu poder.
Assim, a linhagem da família do Senhor provou que Ele era “a descendência de Davi” (Mt 1), mas Seus atos de poder ao
ressuscitar os mortos provaram que Ele é “o
Filho de Deus”.
Vs. 5-6 – Esses versículos nos
levam ao escopo do evangelho. Paulo
declara que lhe foi dado “graça”
especial para cumprir seu “apostolado”
e levar o evangelho a “todas as gentes”.
Assim, o alcance da mensagem do evangelho alcança toda a raça humana. Ao
acrescentar a frase: “Para obediência da
fé”, Paulo deixou claro que as bênçãos que o evangelho promete só são
recebidas por aqueles que têm fé para crer na mensagem.
V. 7 – Paulo então identifica
aqueles para quem a epístola foi escrita – “A
todos os que estais em Roma, amados de Deus”. Isto não está se referindo a
todo o povo de Roma, mas a todos os crentes de lá. É provável que alguns deles
tenham sido salvos por meio da pregação de Pedro no Pentecostes (At 2:10), e
levaram o evangelho de volta para casa e o espalharam por lá. Que Paulo estava
se referindo aos crentes em Roma é evidente pelo uso da palavra “amados”. Como regra, o termo é usado
nas Escrituras somente para os crentes.
Outra prova de que ele estava se
referindo aos crentes é o fato de chamar de “santos” aqueles a quem estava escrevendo. Um santo é um “separado” ou “santificado”. Os santos só poderiam ser crentes. Todos esses foram
salvos pela graça de Deus e são (posicionalmente) santificados, sendo separados
para bênção. A KJV diz: “chamado para
ser santos”, mas as palavras “para
ser” estão em itálico, indicando que não estão no texto grego e foram
adicionados pelos tradutores para auxiliar a leitura da passagem. Infelizmente,
como no caso do versículo 1, isso muda o sentido e torna a santidade uma meta a
ser alcançada no futuro. Este é um erro católico. (O catolicismo romano ensina
que se uma pessoa vive nobremente para esse sistema, depois que deixa este
mundo pela morte, ela pode ser promovida a um lugar especial de ser santa.) As
pessoas tomam essa ideia equivocada e dizem coisas como “Eu não pretendo ser um
santo, mas...”. O texto deveria simplesmente dizer, “chamados santos”. A verdade é que, se somos crentes no Senhor
Jesus Cristo, somos santos – e somos
tais por termos sido chamados por Deus! Não é algo que esperamos ser, ou
estamos esperando para ser, mas algo que a Palavra de Deus diz que somos pela graça de Deus. Alguns pensam
que é evidência de humildade recusar-se a ser chamado de santo agora, mas isso
nega a verdade das Escrituras. Não há Escritura que nos diga para tentar
alcançar santidade, mas há muitas Escrituras que nos dizem que todos os crentes
são santos, mesmo enquanto ainda estão vivendo neste mundo. Não é orgulho ou
presunção crer na Palavra de Deus.
[1] N. do T.: Há parênteses nas versões inglesas KJV e JND e não nas versões
em português
[2] N. do T.: Há parênteses nas versões JND e ATB.
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