quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

SERVIÇO DEVOTADO PARA DEUS Capítulo 12:1-8


SERVIÇO DEVOTADO PARA DEUS
Capítulo 12:1-8

Nos primeiros oito versículos do capítulo 12, Paulo traça uma ordem moral das coisas que ocorrem nas vidas daqueles cujos corações foram tocados pelas compaixões de Deus e pelo amor de Cristo. Essas coisas são como uma corrente, construindo-se de um elo para o próximo – indo da apreciação do crente pela misericórdia e graça de Deus, até a sua consagração ao serviço de Deus.

APRECIAÇÃO (cap. 11:33-36)

A doxologia no final do capítulo 11 forma uma transição natural (uma ponte) para as exortações práticas deste capítulo. Como já observamos, refletir sobre tudo o que aconteceu nos onze capítulos precedentes, terá um efeito positivo sobre o crente. Isso produzirá uma apreciação sincera pelo que Deus fez para salvá-lo e será expresso em louvor e agradecimento. Esta é realmente a fonte para todo o comportamento Cristão correto. Vamos, então, reservar tempo para considerar (e meditar sobre) o que Deus fez por meio de Cristo para Sua própria glória e para nossa bênção; isso nos fará Cristãos agradecidos e dedicados.

DEDICAÇÃO (cap. 12:1)

Supondo que o coração do crente esteja cheio de apreciação pelo que Deus fez, Paulo imediatamente roga pelos direitos de Cristo na redenção. A “compaixão de Deus” ao nos alcançar e nos salvar a um grande custo para Si mesmo, não apenas requer agradecimento, mas também a entrega de nossas vidas à causa de Cristo neste mundo. Paulo, portanto, convoca a dedicação de nossas vidas como uma resposta apropriada. Ele diz: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável [aceitável – JND] a Deus”. Nota: ele não diz, “Ordeno-vos, pois, irmãos...” porque não é a obediência legal que Deus deseja do Cristão. Nossa resposta natural deveria ser: Devo dar algo em reconhecimento a Ele. O que posso fazer para Ele? Ou, como disse o salmista: “Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?” (Sl 116:12).
A lógica da cruz – o que aconteceu lá – deveria levar o crente a uma entrega incondicional de sua vida a Cristo. Isso é dedicação. Dedicar significa “se entregar”. (Ver At 15:26 – JND). Nas Escrituras, tem o sentido de dedicar algo a Deus (Lv 27:21, 28; 2 Sm 8:11). “Apresenteis” está no tempo verbal aoristo no grego, significando que isto deve ser uma coisa de uma vez por todas na vida do crente. (Se uma pessoa sofrer uma queda em sua alma e se afastar de andar com o Senhor, precisará dedicar novamente sua vida, mas isso não é Cristianismo normal.) Nossos “corpos”, que antes eram usados como veículos de nossas próprias vontades, agora, como resultado da graça de Deus operando em nossos corações, devem alegremente ser colocados no altar de Deus como um sacrifício a ser usado em Seu serviço.
A dedicação está intimamente ligada ao Senhorio; as duas coisas realmente andam juntas. Reconhecer o Senhorio de Cristo envolve renunciar em favor d’Ele o comando de nossas vidas. Tendo Cristo como Senhor da nossa vida vai além de ter Cristo como nosso Salvador. Uma coisa é conhecê-Lo como nosso Salvador que morreu por nós e outra coisa é tê-Lo como o Senhor de nossas vidas. O Senhorio tem a ver com o reconhecimento de Sua autoridade de forma prática. É reconhecer que Ele é o Único que tem o direito de ordenar nossas vidas, porque na redenção Ele reivindicou tudo o que somos e tudo o que fazemos (1 Co 6:20, 7:23). Este “sacrifício” deve ser uma escolha voluntária do crente cujo coração foi tocado pelo amor de Cristo (2 Co 5:14-15). É puramente uma questão pessoal; não é um exercício em grupo.
Isso mostra que quando o coração é tomado por admiração e afeição por Cristo, haverá um motivo inteiramente novo no crente que alterará o curso de toda a sua vida. Os objetivos, metas e ambições pessoais que ele uma vez teve, serão sacrificados e trocados de bom grado pela busca do que pertence à glória de Deus em Cristo. É um sacrifício nobre que será ricamente recompensado, tanto agora como num dia vindouro. Não vamos nos arrepender por termos dado nossas vidas a Ele! Nunca foi encontrado um único crente que tenha entregado sua vida a Cristo e se arrependido de tê-lo feito! Isto é verdadeiramente o caminho para uma vida Cristã feliz e frutífera.
Existem realmente três sacrifícios no Cristianismo: 
  • OFERECER LOUVOR – “Portanto ofereçamos sempre por Ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15; 1 Pe 2:5).
  • OFERECER MATERIALMENTE – “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação [de seus recursos – JND], porque com tais sacrifícios Deus Se agrada” (Hb 13:16; Fp 4:18).
  • OFERECER NOSSAS VIDAS (tempo e energia) – “Apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável [aceitável – JND] a Deus” (Rm 12:1). 

Às vezes a dedicação é confundida com a consagração, mas há uma diferença. A dedicação tem a ver com colocarmos algo na mão de Deus – nossas vidas (v. 1), ao passo que na consagração Deus coloca algo em nossas mãos – Ele enche nossas mãos com uma obra a ser feita em nome d’Ele (vs. 6-8). Note também: Romanos 12:1 diz que este sacrifício deve ser “santo”. Deus aceitará e usará nossas vidas quando nós as entregarmos a Ele, mas elas devem ser santas. Se não estivermos vivendo uma vida santa, ela não pode ser aceita e usada em Seu serviço.
Paulo acrescenta que é nosso “culto racional”. Racional deveria ser traduzido como “inteligente”. Isso significa que nosso sacrifício a Deus é algo que pode ser racionalizado de forma inteligente e lógica. O que Paulo está dizendo aqui é que, em vista do que Cristo fez por nós, a única coisa correta e lógica a fazer é responder entregando nossas vidas a Ele. Também há o pensamento aqui de que o serviço Cristão é algo que entendemos quanto ao que fazemos e porque fazemos. Isto está em contraste com o serviço de Deus do Velho Testamento. Quando os levitas naquele sistema realizavam seu serviço ao oferecer sacrifícios, havia muita coisa que eles não entendiam. Por exemplo, eles não sabiam por que deveriam cortar os sacrifícios em várias partes, etc. Mas no Cristianismo, temos um “culto racional [serviço inteligente – JND]. Quando o Senhor nos chama ao Seu serviço – ao qual todo Cristão é chamado – podemos realizá-lo inteligentemente. Nós sabemos por que pregamos o evangelho; sabemos por que batizamos aqueles que creem etc.

SEPARAÇÃO (cap. 12:2a)

Paulo então toca em algo que claramente se interpõe no caminho da entrega de nossas vidas à causa de Cristo – o mundo. Ele, portanto, exorta: “E não vos conformeis com este mundo”. A razão pela qual precisamos estar separados do mundo é porque o mundo e seus princípios são inteiramente opostos a uma pessoa que faz a vontade de Deus. O mundo nos encoraja a colocar a nós e nossos interesses em primeiro lugar. O princípio fundamental sobre o qual o mundo se move é fazer o que queremos fazer. É-nos dito para vivermos para nós mesmos – para o que nos agrada. Somos encorajados a nos tornarmos felizes na busca de qualquer objeto terrestre que escolhermos. Se tivermos algum sonho de fazer algo neste mundo ou de ser alguém neste mundo, o mundo nos encoraja a perseguir isso. Mas todas essas buscas apenas nos conformam aos seus caminhos, e não nos tornarão verdadeiramente felizes, nem nos serão adequadas ao serviço do Senhor. O Cristão de boa mente, portanto, deveria ver o sistema mundial (a sociedade dos incrédulos) como um inimigo, e separar-se dele.
O mundo nos diz para colocar o EU no centro de todas as nossas ações. Deus, no entanto, quer que coloquemos CRISTO no centro de todas as nossas ações. Quando fazemos isso e procuramos fazer coisas que farão o Senhor feliz, uma coisa estranha e inexplicável acontece – descobrimos o que realmente é a verdadeira felicidade! De fato, quanto mais tentamos fazê-Lo feliz, mais felizes nos tornamos! Este é um fenômeno que não pode ser explicado. É o segredo da verdadeira felicidade, sobre a qual os homens do mundo nada sabem. É triste dizer que muitos Cristãos também não sabem, e é por isso que vemos tantos Cristãos perseguindo prazeres mundanos em busca de satisfação e felicidade.

TRANSFORMAÇÃO (v. 2b)

Deus quer usar todo Cristão neste mundo para promover a glória do Senhor Jesus Cristo. Contudo, Ele não pode nos usar (em grau apreciável) no estado inicial em que Ele nos salva. Simplesmente há muito ego e princípios mundanos e carnais em funcionamento em nossos corações. Portanto, há necessidade de transformação.
Paulo diz: “mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento [vossa mente – ARA]. Deus tem um plano individualizado para cada um de nós, com vistas a glorificar Seu Filho. Para este fim, Ele quer que primeiro discirnamos e depois façamos a Sua vontade no serviço do Senhor. Mas, visto que os caminhos e princípios do mundo tão facilmente influenciam nosso pensamento e nos impedem de discernir Sua vontade, precisamos repetidamente renovar nossa mente redirecionando-a para Cristo e o que está relacionado aos Seus interesses e glória. C. H. Brown disse que deveríamos fazer isso 50 vezes por dia! Como resultado, somos transformados em vasos que podem ser usados para a glória do Senhor. Assim, a transformação é realizada por um pensar renovado.
É interessante notar que no texto grego há dois radicais diferentes usados para “forma” nas palavras “conformado” e “transformado”. Em conformado [suschématizó] refere-se a uma mudança superficial, mas em transformado [metamorphoó], é uma profunda mudança interna. Portanto, a transformação que Deus realiza em nós é uma renovação completa e duradoura de nossos seres. Simplificando: quanto ao nosso caráter e modos, estamos sendo conformados ou estamos sendo transformados. Estamos nos movendo na direção do mundo ou para longe dele. Podemos ter certeza de que, se as ambições mundanas se instalarem em nosso pensamento, o processo de transformação será grandemente prejudicado.
Quando se trata do serviço de Deus, não devemos nos concentrar no que podemos trazer a Ele no que diz respeito às nossas habilidades. Nem devemos ser desencorajados por nossas incapacidades. É nossa disponibilidade que Deus deseja. Se nos tornarmos disponíveis a Ele, dando-Lhe nossas vidas, Ele nos transformará em algo útil em Seu serviço.
Assim, Paulo tocou em três coisas que são necessárias para discernir a vontade de Deus para nossas vidas:

q Um corpo apresentado (v. 1).
q Uma vida separada (v. 2a).
q Uma mente renovada que está comprometida em fazer a vontade de Deus (v. 2b).

REALIZAÇÃO (v. 2c)

Tendo a glória do Senhor Jesus Cristo como nosso foco, esclarece muitas coisas sobre o discernimento da vontade de Deus para nossas vidas. Com pensar renovado, logo discerniremos (perceberemos) o que o Senhor quer que façamos por Ele em Seu serviço. Por isso, Paulo acrescenta: “para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. Como mencionado, Deus tem um plano específico para a vida de todo crente, para a glorificação do Senhor Jesus. Como não há dois Cristãos que sejam iguais, não há dois planos de vida idênticos. Isto porque todos nós temos um lugar diferente para ocupar no corpo de Cristo, como Paulo mostra nos versículos 4-8. O ponto principal aqui é que todos nós temos algo a fazer por Ele (Mc 13:34), e o objetivo é o mesmo para todas as pessoas – para glorificar o Senhor Jesus.
Notemos que Paulo não diz que devemos saber, mas sim, que devemos “experimentar” a vontade de Deus em nossas vidas. Experimentar inclui conhecer, mas vai além disso ao se engajar na experiência real de fazer a Sua vontade. E assim, provamos pela experiência que ela é de fato “boa, agradável, e perfeita”. Ao experimentá-la, descobrimos que é tão boa quanto Deus diz que ela é. De fato, é uma alegria fazer a vontade d’Ele (Sl 40:8). Parece que todo mundo quer conhecer a vontade de Deus, mas isso pode ser mera curiosidade. Deus geralmente não revela Sua vontade para tais; o conhecimento da Sua vontade é dado antes àqueles que estão comprometidos em fazer a Sua vontade. O Senhor ensinou isso a Seus discípulos: “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, conhecerá a respeito da doutrina” (Jo 7:17 – ARA). Ele não disse: “Se alguém quiser conhecer a vontade d’Ele...”. Portanto, é preciso haver uma predisposição de compromisso de nossa parte. Quando Deus vê que estamos levando a sério, Ele nos mostrará Sua vontade.

HUMILHAÇÃO (v. 3)

Tendo descoberto que o que cremos é a vontade de Deus para nossas vidas no serviço do Senhor, precisamos ter cuidado com algo que pode inconscientemente nos pegar de surpresa – importância própria (orgulho). Assim, Paulo diz que “cada um” deve ser cuidadoso para “que não saiba mais do que convém saber”. Isso nos mostra que há uma real necessidade de humildade na realização do nosso serviço ao Senhor. Quando consideramos que Deus gostaria de nos usar para promover a glória de Seu Filho neste mundo, isso deveria nos humilhar – não nos exaltar com importância própria. Tal é o efeito normal da graça de Deus tocando os corações (2 Sm 9:8; Ef 3:8).
Como mencionado, a humildade é muito importante no serviço do Senhor. Se formos verdadeiramente humildes, não vamos querer servir de maneira que chame a atenção para nós mesmos. Podemos ter ideias infladas sobre nossa importância e isso estragará nossa eficiência. O orgulho pode nos enganar e nos levar a imaginar que fomos chamados a fazer algo no serviço do Senhor, para o qual não fomos chamados. Paulo, portanto, diz que precisamos pensar “com temperança [de modo a ser sábio – JND]. A lição aqui é: não tentemos ser algo que não somos. Pensamentos altivos sobre si mesmo é realmente mundanismo, dos quais somos ordenados a nos esquivar. Precisamos ter o espírito de Davi, que disse: “SENHOR, o meu coração não se elevou nem os meus olhos se levantaram: não me exercito em grandes assuntos, nem em cousas muito elevadas para mim” (Sl 131:1). Aparentemente, isso foi escrito depois que seu irmão (Eliabe) o acusou de orgulhosamente tentar se envolver na luta contra Golias e os filisteus (1 Sm 17:28).

CONSAGRAÇÃO (vs. 4-8)

Tendo discernido o que acreditamos ser a vontade de Deus em relação ao nosso serviço para o Senhor, isto deve nos levar a nos dedicar a esse trabalho. Isso é consagração. Consagração significa “encher as mãos” (Êx 32:29 – KJV margem; 1 Rs 13:33). Um Cristão consagrado é aquele que tem as mãos cheias (quem está ocupado) no serviço do Senhor.
Se nossas mãos estiverem ocupadas, não teremos espaço para outras coisas. Isto é ilustrado na consagração dos sacerdotes no Velho Testamento. Em Êxodo 29, depois que os filhos de Aarão foram lavados com “água” (v. 4), aspergidos com “sangue” (v. 20) e ungidos com “azeite” (v. 21), Moisés encheu suas mãos com dez coisas que tipificam Cristo de várias maneiras (vs. 22-24). Se pudéssemos ver aqueles sacerdotes em pé naquele dia com aquelas dez coisas em suas mãos, imediatamente entenderíamos que eles não teriam espaço para mais nada nelas. É assim que deve ser conosco no serviço do Senhor! Um Cristão consagrado simplesmente não tem espaço para coisas estranhas em sua vida.
Nos versículos 4-8, o apóstolo mostra que, como cada parte de um corpo humano tem uma “operação” diferente, assim também cada membro do corpo de Cristo. Ele diz: “Porque assim como em um corpo [humano] temos muitos membros [desse corpo humano], e nem todos os membros têm a mesma operação. Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros”. Isso mostra que todos nós temos um lugar para ocupar e algo para fazer no corpo de Cristo. Deus deu uma “graça” especial a cada membro do corpo para ocupar o lugar em que ele foi colocado (Rm 12:6; Ef 4:7). Deus também deu “dons” aos membros do corpo para ajudá-los a servir em seu lugar eficazmente.
Alguns nos dirão que não têm um dom, mas isso não é verdade, porque a Bíblia ensina que todos nós recebemos um dom (1 Co 12:7; 1 Pe 4:10). Talvez nem todos tenhamos o dom para o ministério público da Palavra – e isso é provavelmente o que as pessoas querem dizer quando dizem que não têm um dom – mas todos nós temos algum tipo de dom. Muitas vezes não está aparente qual é o nosso dom, e isso pode ser porque não nos dedicamos ao Senhor como deveríamos. O Sr. Darby disse que se houvesse mais devoção (dedicação) entre os santos, haveria mais dons evidentes. Ele não estava sugerindo que dons vêm pela devoção, mas que quando uma pessoa se dedica seriamente ao Senhor, seu dom será desenvolvido e se tornará distintamente reconhecível.

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