Quatro
Objeções que os Judeus Naturalmente Fariam em Defesa Própria
Chegamos agora àquela que talvez
seja a passagem mais difícil de se entender de todos os escritos de Paulo –
alguns dizem de toda a Bíblia!
Os judeus se opuseram veementemente
ao ensino de Paulo de que eles estavam sob a sentença de juízo junto com o
resto do mundo. Ofendia lhes que fossem vistos como estando no mesmo nível que
os gentios, no que diz respeito à necessidade de serem salvos. Em um esforço
para provar que Paulo estava errado e desacreditar o evangelho que pregava,
eles levantaram inúmeras objeções e críticas. Estando bem familiarizado com
essas objeções, Paulo reitera quatro
delas e os responde com sabedoria e lógica dadas pelo Espírito.
Cap. 3:1 – Depois de ler o que
Paulo disse no capítulo anterior a respeito da falsa segurança dos judeus nas
coisas religiosas, sua indagação natural seria: “Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão?”
Em outras palavras, eles diriam: “Paulo, você está denegrindo os favores e
privilégios que Deus nos concedeu, Seu povo escolhido. Certamente, se essas
coisas foram dadas por Deus, elas devem ser certas e boas. E se elas são
preciosas para Ele, não deveríamos tratá-las como inúteis”. Assim, eles acusaram Paulo de ensinar que os
privilégios que Deus deu a Israel no judaísmo eram sem sentido. Ele foi acusado
de desmerecer as coisas sagradas do judaísmo e para eles isso era semelhante à
blasfêmia.
V. 2 – Paulo responde dizendo: “Muita, em toda a maneira, porque,
primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas”. “Muita, em toda a maneira” significa
que ele concordou que havia muitas vantagens em ser judeu – o mais importante,
é que eles receberam “as palavras de
Deus”. Esta é a voz profética de Deus nas Escrituras do Velho Testamento
sobre a vinda de Cristo, o Messias. As palavras de Deus iluminaram os judeus em
relação aos padrões morais de Deus, aos caminhos de Deus e às profecias
referentes a Cristo. Mas essas coisas não seriam de vantagem para os judeus, a
menos que fossem acompanhadas por uma obra interior de fé no coração. Esse era
o problema deles; eles não haviam respondido em fé ao que as palavras de Deus
haviam anunciado a respeito de Cristo. Assim, sua grande vantagem tornou-se aquilo
que os condenou, porque, como nação, eles não receberam o Messias quando Ele
veio.
V. 3 – Os judeus responderiam a
isso com uma segunda objeção: “Pois quê?
Se alguns foram incrédulos, a sua incredulidade aniquilará a fidelidade de
Deus?” Os judeus sabiam que a nação não havia crido nas palavras de Deus em
relação a Cristo e responderam dizendo: “Paulo, você está dizendo que a
incredulidade dos judeus anula a fidelidade de Deus!”
V. 4 – Paulo responde dizendo: “De maneira nenhuma”. Essa é a primeira
das dez ocorrências dessa frase na epístola[1].
Significa “certamente não”. Assim, Paulo concordou que a incredulidade dos judeus
não poderia anular a fidelidade de Deus em relação as Suas promessas à nação.
Ele então declara um princípio que todos devemos usar ao lidar com as
Escrituras: “Sempre seja Deus
verdadeiro, e todo o homem mentiroso [falso]”. Isto é: sempre que nos depararmos
com um enigma nos caminhos de Deus, e o caso se apresente quanto a se o homem
ou Deus está errado, sigamos sempre o princípio de que Deus é verdadeiro
(certo), e todo homem está errado (falso). Tomar o caminho inverso seria
encontrar falhas em Deus e acusá-Lo de injustiça – que é do que judeus estavam
acusando Paulo.
Paulo insistiu que Deus mantém a
Sua Palavra e dá um exemplo em Davi. Ele o cita no Salmo 51:4: “Como está escrito: Para que sejas
justificado em Tuas palavras, e venças quando fores julgado”. Davi
desconsiderou as advertências na Palavra de Deus a respeito do juízo de Deus
contra o pecado do adultério, e descobriu da maneira mais difícil que Deus
mantém a Sua Palavra. Ele experimentou o julgamento (governamental) de Deus em
relação ao seu pecado. Os pecados de Davi apenas confirmaram a veracidade da
Palavra de Deus em conexão ao julgamento do pecado. Por isso, a incredulidade
dos judeus não anulou as promessas de
Deus – ela apenas sancionou Deus tendo de julgá-los por não terem crido.
V. 5 – Os judeus neste ponto
torceriam o que Paulo estava dizendo e o acusariam de comprometer a integridade
do caráter de Deus. Paulo sabia disso e declara sua terceira objeção: “E, se a nossa injustiça for causa da
justiça de Deus, que diremos? Porventura será
Deus injusto, trazendo ira sobre nós?”
Em outras palavras, eles estavam dizendo: “Paulo, se você ensinar que Deus é
glorificado pelos pecados dos judeus, então você está dizendo que o pecado
glorifica a Deus! Dizer que Deus precisa dos nossos pecados para o louvor da
Sua justiça é apresentar a Deus como tolerante ao pecado! Você está acusando Deus com injustiça!” Assim, os judeus o acusaram
de desvirtuar o caráter de Deus. Para o caso de alguém ter pensado que Paulo
realmente acreditava nessa ideia absurda, ele acrescenta em um parêntese: “Falo como homem”. Isto é, ele estava
meramente apresentando o argumento pervertido deles.
V. 6 – Paulo responde a isso
dizendo: “De maneira nenhuma: doutro
modo, como julgará Deus o mundo?” Na verdade, ele estava dizendo: “Tal
argumento é indigno de séria consideração, pois se fosse verdade, então Deus
não teria base para julgar o mundo. Ele não poderia corretamente vingar o
pecado e julgar os pecadores”. Isto não poderia ser verdade, porque as palavras
de Deus claramente declaram que Deus “julgará
o mundo com justiça” por meio daqu’Ele a Quem a nação rejeitou (Sl 9:8,
96:13, 98:9, etc.).
V. 7 – Os judeus antagonistas
continuariam forçando sua objeção anterior, acrescentando uma quarta objeção: “Mas, se pela minha mentira abundou mais a
verdade de Deus para glória Sua, por que sou eu ainda julgado também como
pecador?” Em outras palavras, eles disseram: “Se nossos pecados ajudam a
glorificar a Deus, por que seríamos julgados por eles? Se o meu pecado vindica
a verdade e glorifica a Deus, então como Deus pode encontrar falha em mim como
pecador? Como Ele pode infligir juízo sobre nós por fazermos algo que resulta
em Sua glória?”.
V. 8 – Paulo responde a essa
objeção dizendo: “E por que não dizemos (como somos blasfemados, e
como alguns dizem que dizemos): Façamos males, para que venham bens?”. Ele diz: “Não, isso não poderia estar certo,
porque se você levar esse argumento à sua conclusão lógica, ele conduz à falsa
filosofia de que o fim justifica os meios”. Paulo interrompeu o fluxo do
argumento para dizer, em outro parêntese, que é exatamente isso que as pessoas
estavam dizendo que ele e seus cooperadores estavam pregando – mas era calúnia.
Paulo conclui o argumento com uma resposta curta: “A condenação desses é justa”. Assim, ele conclui que qualquer um
que defenda sua justificação nesta linha receberá seu justo julgamento.
Assim, nos capítulos 2:17-3:8,
Paulo mostrou que todos esses argumentos humanos são falsos e não isentam os judeus
de suas responsabilidades diante de Deus, nem da sentença de juízo que está
sobre eles. Seus argumentos não os “absolveram”. O judeu iluminado, portanto,
com todas as suas vantagens religiosas também está sob juízo, assim como os
gentios, e todos eles precisam de um Salvador.
[1]
Rm 3:4, 6, 31, 6:2, 15, 7:7,
13, 9:14, 11:1, 11
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