Abraão
Vs. 1-3 – Paulo começa com Abraão
como prova de que uma pessoa pode ser abençoada de Deus por fé sem trabalhar
por isso. Ele diz que se Abraão tivesse sido considerado justo pelo princípio
das “obras”, então haveria algo em
sua bênção do qual ele poderia ter algum crédito nisso, e assim poderia se “gloriar” nela. Abraão foi considerado
justo pela fé ou pelas obras? Paulo apela às Escrituras para responder e
pergunta: “Pois, que diz a Escritura?”
Ao fazer isso, tirou o assunto da esfera da opinião humana e colocou-o
diretamente no que Deus diz sobre isso em Sua Palavra. Paulo nos leva a Gênesis
15 e mostra que Deus deu a Abraão a promessa de Sua “palavra” (vs. 4-5) e Abraão “creu”
(v. 5a), e isso “lhe é imputada como
justiça” (v. 5b). Isso estabelece então; Abraão não fez obras de qualquer
tipo, mas foi imputado como justo simplesmente por crer na Palavra de Deus. Note
que não diz que Abraão cria em Deus,
o que se refere a ele acreditando na existência de Deus, o que, é claro, ele
acreditava. Em vez disso, diz que ele “creu
a Deus”. Isso se refere a Abraão crer no que Deus lhe havia dito – ele cria
na Palavra de Deus. Foi importante para Paulo estabelecer este ponto, porque ao
final do capítulo, ele vai mostrar que a segurança e a paz do crente são
baseadas no crer na Palavra de Deus concernente à obra consumada de Cristo na
cruz.
Vs. 4-5 – Paulo prossegue
explicando que quando a bênção é pela graça (o favor imerecido de Deus), então
as obras são imediatamente excluídas da cena. Ele diz: “Ora àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo
a graça, mas segundo a dívida”. Isto é, se o homem pudesse ganhar
justificação pelas obras, então Deus seria colocado em dívida para com o homem
e teria obrigação de pagar ao trabalhador bem-sucedido as bênçãos da salvação!
No entanto, isso seria o oposto da graça. Paulo insiste que as bênçãos do
evangelho são “àquele que não pratica,
mas crê naquele que justifica o ímpio”. Independentemente de quão boas são
as intenções de uma pessoa, obras como: votos de confirmação, batismo, membresia e participação
na igreja, tentar guardar os dez mandamentos, fazer caridade e fazer outras
boas ações, viver corretamente como um bom vizinho, etc. não obterão
justificação. As bênçãos do evangelho não são obtidas nesse princípio.
Isso enfatiza a beleza do
evangelho; Deus pode em justiça justificar o pecador que simplesmente crê. Isso é algo radicalmente diferente
da Lei. Ela poderia somente
justificar os justos, não os ímpios (1 Rs 8:32). Abraão foi “justificado”, mas não no pleno sentido
de justificação do Novo Testamento, que envolve ser levado a uma nova posição
diante de Deus em Cristo (Gl 2:17 – “justificado
em Cristo”). No entanto, o princípio
da fé no qual os santos do Velho Testamento e os santos do Novo Testamento são
abençoados é o mesmo, que é o ponto de Paulo aqui. J. N. Darby disse: “Há uma
diferença entre o perdão de Deus no sentido de não imputação, segundo Romanos
4, e o perdão governamental... e a diferença é muito clara, porque o perdão que
justifica, desconhecido no Velho Testamento, é completo e de uma vez por todas
como Hebreus 9, 10 – ‘nunca mais teriam
consciência de pecado’, afirma” (Letters
of J. N. Darby, vol. 2, pág. 275).
Paulo então declara que esse
princípio de fé não se aplica apenas a Abraão, mas a todos os que se achegam a
Deus em fé – sua “fé lhe é imputada [considerada – JND] como justiça”. Considerar [reckon em inglês] significa “achar algo
ser como tal” ou “considerar algo ser como tal”. A palavra grega é “logizomai”[1], e
é usada onze vezes nesta passagem. (Infelizmente, a KJV nem sempre traduz a
palavra como “considerada”. Às vezes
é traduzida como “contada” ou “imputada”.) Em cada uma das onze
referências encontradas no capítulo, é sempre Deus Quem considera. Isso é
importante de se ver; o assunto aqui é a consideração de Deus – não do crente. Somos
“feitos justos” na mente de Deus
(cap. 5:19). (No capítulo 6:11, o crente será chamado para “considerar-se” em
relação a certos fatos que Paulo expõe naquela passagem, mas aqui no capítulo
4, o assunto é a consideração de Deus). Assim, “a justiça da fé” é uma consideração divina do crente. Tem a ver
com o que ocorre na mente de Deus em conexão com a pessoa que crê. Não tem nada
a ver com os pensamentos e sentimentos do crente sobre sua justificação. Um
erro comum dos crentes novos é olhar para dentro de si procurando certos
sentimentos que acham que deveriam corresponder com o fato de serem salvos. O
problema com esse tipo de introspecção é que, quando o crente não se sente como
acha que deveria se sentir, pode ser levado à dúvida e desânimo, e às vezes
temer de que nunca tenha sido verdadeiramente salvo.
Ser considerado justo não significa
que Deus faz do pecador ímpio uma pessoa justa e piedosa, mas que Ele tem ou
considera o pecador que crê ser assim justo, em Seu pensamento ou avaliação. W.
Scott disse: “É simplesmente ter ou considerar alguém como justo... um homem
que em si mesmo está errado é contado corretamente” (Doctrinal Summaries pág. 15). Assim, ao Paulo desdobrar o
evangelho, ele nos traz antes o lado de Deus da justificação do crente. Isto é
importante; o crente precisa saber como Deus o vê para ter uma certeza sólida.
[1] N. do T.:
J. N. Darby traduz “logizomai” como Reckon e significa considerar, ter em
conta, contar como sendo, pensar em alguém como sendo algo específico A palavra
grega aparece neste capítulo nos versículos 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 22, 23,
24. Na maioria das ocorrências nas versões em português, encontramos a tradução
de “logizomai”, como imputar, que
significa conferir ou atribuir algo a alguém.
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