O
GOZO DA RECONCILIAÇÃO (cap. 5:10-11)
Paulo menciona um último (mas não menos importante)
benefício resultante de ser justificado pela fé – o gozo da reconciliação. Ele
diz: “E não somente isto, mas também nos gloriamos [regozijamos] em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo,
pelo Qual agora alcançamos a reconciliação”. Houve uma mudança radical na
mente do crente, pela qual ele agora tem gozo em seu relacionamento com Deus e
sua proximidade com Ele.
Um dos tristes resultados da
entrada do pecado neste mundo é que existem relações estranhas entre os homens
e Deus. Há pensamentos e sentimentos errados no coração e “entendimento [mente]” do
homem para com Deus (Cl 1:21). Pelo pecado, os homens em seu estado caído
tornaram-se “inimigos de Deus” (Rm
1:30 – KJV), e assim eles têm grande “inimizade
contra Deus” (Rm 8:7). Assim, os homens são “alienados” (ATB) de Deus e são “inimigos” de Deus (Cl 1:21).
Essa condição de inimizade é
totalmente da parte do homem. É o homem que pecou e se afastou de Deus. Mesmo
tendo sido o coração do homem corrompido para com Deus, a disposição de Deus
para com o homem não mudou. Ele ainda está favoravelmente inclinado às Suas
criaturas, pois Ele é o Deus Imutável (Ml 3:6; Hb 13:8; Tg 1:17). Por isso,
Deus não é um inimigo do homem, embora o homem por meio da queda tenha se
tornado inimigo de Deus. Há, portanto, uma grande necessidade de mudança no
coração do homem, mas não no de Deus, pois Ele sempre amou o homem. Assim, não
é Deus Quem precisa ser reconciliado com o homem, mas o homem com Deus. Às
vezes, quando as pessoas são despertadas para a sua necessidade de serem
salvas, elas têm a ideia equivocada de que, como pecaram e estão distantes de
Deus, precisam fazer alguma coisa para voltar o coração de Deus para si. Alguns
pensam que precisam derramar lágrimas, enquanto outros acham que precisam
limpar suas vidas e se tornar religiosos. Mas isso é mal compreender o coração
de Deus e Seu caráter imutável. A verdade é que o coração d’Ele sempre foi
favorável ao homem, embora o homem tenha pecado contra Ele. Desde o dia em que
o pecado entrou na criação, Deus tem procurado o livramento e a bênção do
homem.
Visto que Deus não precisa ser
reconciliado com o homem – mas sim o homem com Deus – a Escritura não apresenta a reconciliação como a
conhecemos hoje no sentido moderno da palavra. (Ela é usada em nossos dias em
conexão com duas partes que estavam afastadas, e que se aproximam uma da outra
com algum grau de compromisso, para que as relações entre elas pudessem voltar
a ser como eram antes.) Reconciliação, como apresentada no evangelho, nunca vê
Deus e o homem se encontrando em algum ponto no meio, mas o homem (crente)
sendo “levado” a Deus (1 Pe 3:18; Ef
2:13). Para evitar essa ideia equivocada, as Escrituras nunca dizem que somos
reconciliados com Deus. Tal afirmação
poderia transmitir a ideia de que houve algum comprometimento da parte de Deus,
assim como da parte do homem. As escrituras afirmam cuidadosamente que os
crentes são reconciliados “a” (JND) Deus
(Rm 5:10; 2 Co 5:20; Ef 2:16; Cl 1:20). É por isso que Paulo diz que “nós” (crentes) alcançamos “a reconciliação”; não diz que Deus
alcança a reconciliação (v. 11).
O apóstolo afirma que já fomos “inimigos” de Deus. Um inimigo é aquele
que tem inimizade e maus sentimentos em relação àquele que odeia e,
consequentemente, se mantém afastado dele. Esta é a condição do homem caído em
relação a Deus. Seus maus sentimentos em relação a Deus são acionados pela
presença de uma má consciência que o condena como pecador. Isso lhe dá a
sensação de haver feito algo errado e o deixa desconfortável em encontrar-se
com Deus. A inimizade no coração do homem começou com a queda do homem (Gn
3:15), e tem trabalhado para manter os homens longe de Deus desde então.
Apesar de tal condição prevalecer
sobre a raça humana, Deus assumiu a tarefa de removê-la e trazer os homens
(crentes) de volta a para Si. Neste quinto capítulo de Romanos, Paulo mostrou
que Deus deu o primeiro passo em direção à reconciliação do homem, oferecendo
um sacrifício pelo pecado, a fim de fazer com que o homem seja trazido de volta
a Ele. Paulo diz: “Mas Deus prova o Seu amor
para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (v.
8).
Pai,
Teu soberano amor buscou
Cativos
do pecado, foram para longe de Ti;
A
obra que o Teu próprio Filho fez
Trouxe-nos
de volta à paz e nos fez livres.
L.F. # 331
Paulo explica como Deus remove a
inimizade no coração de um pecador – é pela “morte de Seu Filho”. Isso se refere ao fato de que o amor de Deus
pela humanidade era tão grande que Ele até daria Seu próprio Filho para trazer
os homens de volta a Si! Note que as Escrituras não dizem “a morte de Cristo” ou algum outro título do Senhor
Jesus. Elas dizem “a morte do Seu Filho”.
Isso enfatiza o afeto que existia em Seu relacionamento com Seu Filho. Deus
tinha apenas um Filho, e O amava muito, mas Ele O deu para salvar os pecadores!
O custo de fazer esse sacrifício, portanto, é incalculável. Quando este grande
fato – de que Deus ofereceu Seu amado Filho para levar os homens de volta para
Si – atinge o coração do pecador pelo poder do Espírito, seu coração é apertado.
Então, aprender por meio do evangelho que a disposição de Deus tem sido
favorável ao pecador durante toda a sua vida (mesmo que ele tenha abrigado maus
pensamentos em relação a Deus) é mais do que seu coração pode suportar. O amor
e a compaixão de Deus conquistam o coração do pecador de tal modo que a
inimizade que uma vez ali repousou é dissipada. Todos esses maus sentimentos e
ódios são afugentados da alma, e o amor de Deus inunda seu coração. Assim, seus
pensamentos para com Deus são todos mudados, e Seu Filho, que voluntariamente
Se entregou, torna-Se a Pessoa mais maravilhosa e atraente para ele. Ele uma
vez se sentiu desconfortável com a ideia de se encontrar com Deus, mas agora
como um crente, está muito confortável em Sua presença e realmente se deleita
em lá estar. J. N. Darby observou em relação à reconciliação: “Eu me sinto em
casa com Deus. Todos os Seus sentimentos graciosos são para mim, e eu sei
disso, e meu coração é trazido de volta para Ele”. Como resultado, o crente
exulta em seu novo relacionamento com Deus. “Gloriar-se em Deus” – que é o estado feliz que a reconciliação
produz no crente – é verdadeiramente a atitude correta do crente para com Deus.
Com isto, nós realmente chegamos a um ponto alto na epístola!
Nós
nos alegramos em nosso Deus, e cantamos desse amor,
Tão
soberano e livre que fez o seu coração se mover!
Quando
perdemos nossa condição, todos arruinados, desfeitos,
Ele
viu com compaixão e não poupou o Seu Filho!
LF # 135
Paulo diz: “agora alcançamos a reconciliação” (v. 11). Isso indica que a
reconciliação do crente é um fato consumado; não é algo que esteja esperando
para quando ele chegar ao céu. A KJV diz que recebemos “a expiação”, mas este é
um erro de tradução; deveria dizer “a
reconciliação”. Na salvação do homem, é Deus Quem recebe a propiciação e o crente quem recebe a reconciliação.
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